Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa
Descrição de chapéu juros copom inflação

O enigma do juro natural

Tentarei traduzir o conceito, muito utilizado, mas pouco entendido

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Volto à política monetária para abordar um conceito muito utilizado, mas pouco entendido, em economia: a taxa de juro natural. Em macroeconomia, o juro natural é a taxa de juro real na qual a inflação permanece constante na ausência de choques de oferta. Achou muito economês? Tentarei traduzir.

A inflação é resultado de várias coisas. Para organizar a análise, nós, economistas, dividimos os determinantes da inflação em três grupos: 1) pressões de demandas, medidas pelo desvio da economia em relação à sua tendência de longo prazo; 2) choques de oferta, medidos pela variação de um preço-chave (por exemplo: energia e combustível) não relacionada ao nível de atividade; e 3) expectativa de inflação.

Como separar um item dos demais? Com métodos estatísticos que estimam a inflação como função de variáveis de demanda, oferta e expectativas. Uma vez estimada tal relação (Curva de Phillips), é possível assumir que os choques de oferta são zero e calcular o nível de atividade compatível com a inflação estável na meta do governo.

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Cédulas de real - Gabriel Cabral - 21.fev.2019/Folhapress

Dado o nível de atividade no qual a inflação é estável, a próxima tarefa e calcular o juro real que faz a economia operar em tal patamar. Em outras palavras, precisamos estimar uma curva de demanda (curva IS em economês) para calcular o juro real que faz a economia operar exatamente no seu potencial não inflacionário.

Assumindo que a demanda tem um componente exógeno e um componente que depende do juro real, existe um juro real que faz a demanda ser igual ao potencial produtivo do país. Esse valor é o juro natural dado pelo "equilíbrio interno" da economia, a tendência em torno da qual o juro efetivo deve flutuar, mas há uma complicação.

Com câmbio flutuante e livre mobilidade de capitais entre o país e exterior, a estabilidade da taxa de câmbio real —e, portanto, da inflação— depende da paridade entre as taxas de juro interna e externa. Em outras palavras, como um investidor pode aplicar seus recursos no Brasil ou no resto do mundo, nossa taxa de juro nominal deve cobrir a taxa de juro internacional, o prêmio de risco de investir no Brasil e a expectativa de depreciação do real.

Baseado no princípio acima, a estabilidade da taxa de câmbio real (câmbio nominal ajustado pelo nível de preços do Brasil e do resto do mundo) requer que nosso juro real seja igual ao juro real do resto do mundo mais o prêmio de risco pago por investimentos brasileiros. Essa é a definição de "equilíbrio externo" para o juro real, mas ela gera uma nova pergunta: o que determina o prêmio de risco?

Teoricamente é possível combinar as definições interna e externa do juro de equilíbrio para determinar o prêmio de risco. Se de um lado o juro natural deve neutralizar o excesso de demanda exógena sobre o produto potencial e, do outro lado, o juro natural é dado pelo juro real do resto do mundo mais risco-país, o risco-país depende do excesso de demanda exógena sobre o produto potencial e da eficiência da política monetária em controlar a demanda.

Parabéns e obrigado se você chegou até aqui, mas infelizmente ainda há outra complicação. Além da relação entre demanda e capacidade produtiva da economia, o prêmio de risco também depende da incerteza sobre o retorno de investimentos no Brasil em comparação ao resto do mundo. E o que determina essa incerteza? Várias coisas, mas meu espaço acabou.

Volto na próxima semana aplicando a teoria acima para explicar como nosso juro real anual caiu de 40%, no início dos anos 1990, para os 4% previstos para os próximos anos.

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