Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa

Entenda a recessão de 2014-16

Há outras causas que vão além de erros de política econômica, como a seca

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Fim de ano é tempo de retrospectivas, e resolvi avaliar nosso desempenho econômico recente, mas com uma narrativa diferente dos analistas de sempre.

Começo pela recessão de 2014-16, que vários críticos do PT atribuem somente a erros de política econômica. Passados cinco anos, é possível identificar pelo menos outras quatro causas para a recessão.

Em primeiro lugar, aponto a mudança do cenário internacional, com queda dos preços das commodities a partir de 2012 e colapso em 2014- 15, quando o preço do petróleo chegou a cair para US$ 30. Também houve desaceleração do crescimento chinês, com duas quebras da Bolsa de Xangai, em 2015 e 2016.

Cédulas de real - Gabriel Cabral - 21.ago.2019/Folhapress

Juntando todos os fatores externos, estudos estatísticos estimam que 40% da recessão de 2014-16 tenha vindo de fora. Países com características semelhantes ao Brasil tiveram uma desaceleração equivalente a 40% do que ocorreu aqui.

O segundo determinante da recessão foi a grande seca de 2014-15. Vários estudos também demonstram correlação positiva entre índice de chuvas e PIB no Brasil. Quando há seca, aumentam os preços da energia e dos alimentos, derrubando a atividade econômica.

O oposto acontece em períodos de chuva abundante e, colocando as coisas no modelo estatístico, condições climáticas adversas explicam 10% da recessão de 2014-16. O choque climático foi agravado pela política econômica, pois em 2012 o governo cortou substancialmente as tarifas de energia, o que me leva ao terceiro ponto.

Sim, a política econômica de 2012-14 também causou parte da recessão de 2014-16 (autocrítica). Do lado fiscal, o governo Dilma tentou combater a desaceleração do PIB repetindo as políticas adotadas durante a crise financeira de 2008-09: desoneração e subsídio para empresas, crédito farto para estados e municípios e reforço nos programas sociais.

A aposta era que, como em 2008-09, a crise seria passageira. Na realidade, a crise durou quatro anos, de 2012 a 2015, e o governo foi gradualmente esgotando seu espaço financeiro para sustentar o crescimento.

O resultado apareceu no Orçamento, com queda do resultado primário estrutural, mas, para não reconhecer o problema, o governo adiou despesas e antecipou receitas a fim de cumprir as metas fiscais. Naquela época, defendi que era melhor enfrentar a situação mudando as metas fiscais e compensando isso com reformas na Previdência e na tributação. Não foi o que aconteceu, e saí do governo em maio de 2013.

Faço uma pausa: todas as medidas fiscais adotadas em 2012-14 foram legais, segundo a regulação da época, não houve crime fiscal. O problema foi que a política fiscal era insustentável. A partir de 2013, todo o mundo sabia que algum ajuste fiscal era inevitável, mas, na ausência de sinalização pelo governo, as pessoas esperam o pior, desacelerando o consumo e o investimento.

Voltando, do lado monetário, o Banco Central também errou na mão a partir de 2013, demorando a ajustar o juro diante do aumento da inflação. Como estamos vendo agora, aceleração de preços e incerteza sobre quando a inflação voltará à meta do governo também prejudicam o nível de atividade. O erro foi corrigido em 2015, mas estou me adiantando.

Quanto da recessão de 2014- 16 decorreu da política econômica de 2012-14? Um analista apressado diria 50%, dado que clima e economia mundial explicam os outros 50%, mas a questão não é tão simples.

Também houve o arrocho excessivo de 2015 (autocrítica) e dois choques institucionais adversos em 2014-16: a Operação Lava Jato e o golpe de 2016. Volto a esses três temas na próxima semana.

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