Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa
Descrição de chapéu inflação

Política econômica de 2015 na recessão de 2014-16

Reajuste abrupto de preços de energia em contexto de crise hídrica mudou rapidamente expectativa de crescimento

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Continuando o tema da semana passada, retorno às causas da recessão de 2014-16, para analisar a política econômica de 2015.

No final de 2014 a inflação estava subindo, o PIB (Produto Interno Bruto) estagnado e o Orçamento, desequilibrado. Apesar desse quadro, a LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2015, aprovada no ano eleitoral de 2014, continha um cenário róseo: recuperação do crescimento, elevação do resultado primário, Selic moderada e gasto discricionário elevado. A conta não fechava com a realidade e o ajuste veio de duas formas.

Do lado fiscal, após mudança de equipe econômica (quando retornei ao governo), o segundo governo Dilma Rousseff (2015-2016) começou reduzindo a projeção de crescimento e a meta de resultado primário. Ainda assim foi preciso contingenciar despesas em relação às metas irrealistas da LOA 2015.

Dilma Rousseff em evento na Associação Brasileira de Imprensa, ABI, no centro do Rio de Janeiro - Mauro Pimentel - 31.ago.2017/Folhapress

O ajuste fiscal do início de 2015 desperta críticas na esquerda até hoje, mas ele foi correto no cenário da época. Aos críticos fica o desafio de mostrar como a LOA 2015 se sustentaria no quadro macroeconômico do início daquele ano.

Do lado monetário, o Banco Central (BC) começou a elevar o juro no final de 2014 e continuou o processo em 2015. Diante da aceleração da inflação puxada pelo câmbio, a medida foi correta. Mesmo quando o choque de inflação não é de demanda, pode ser necessário subir a Selic para evitar que a inflação se consolide em patamar elevado.

Vários colegas heterodoxos criticam a postura do BC em 2015, dizendo que era melhor deixar a inflação cair naturalmente. Nossa história monetária mostra que tal opção é altamente arriscada.

Se contingenciamento fiscal e elevação da Selic estavam certos no início de 2015, onde está o erro de política econômica daquele ano? No reajuste abrupto do preço de energia, que acabou rapidamente com os subsídios adotados em 2012-14 e transferiu os efeitos da seca imediatamente para as tarifas.

O tarifaço de energia de 2015 chegou a quase 60%. Como todo economista aprende no primeiro ano de curso, foi um clássico choque adverso de oferta, reduzindo o PIB e aumentando a inflação. O ideal seria uma transição mais gradual para preços realistas, como tem sido feito desde então.

Por exemplo, estamos vivendo outro choque adverso de energia, mas agora o governo faz empréstimo para as geradoras, diluindo o aumento de preço em vários anos. Em 2015 a maior parte do ajuste foi imediato e isso foi um erro (autocrítica).

Mesmo com contingenciamento fiscal e elevação da Selic, no início de 2015 as expectativas de mercado indicavam crescimento naquele ano. O reajuste abrupto de preços de energia em um contexto de crise hídrica mudou rapidamente o cenário.

Em paralelo à política econômica, outros fatores empurraram a economia para baixo no início de 2015: o colapso de preços de commodities, que mencionei na semana passada, e o impacto econômico da Operação Lava Jato e das pautas bomba no Congresso, que abordarei na próxima semana.

Para completar o texto de hoje, relembro que, diante da rápida queda do nível de atividade, o governo Dilma mudou sua estratégia em meados de 2015. O BC parou de subir juro e, do lado fiscal, a equipe econômica propôs nova redução do resultado primário, o "Orçamento com déficit", que permanece até hoje.

Devido ao clima político da época, a flexibilização da política fiscal, proposta em julho de 2015, só foi aprovada pelo Congresso em dezembro daquele ano. A oposição à Dilma resolveu apostar no "quanto pior, melhor" e atrasou a estabilização da economia. Volto a esse tema na próxima semana. Bom Natal a todos!

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