Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa
Descrição de chapéu mercado de trabalho

PIB e produtividade

Quando o PIB sobe, puxa o investimento, em um efeito acelerador do crescimento

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Há duas semanas, argumentei que, com taxa de desemprego em 11% e taxa de participação no mercado de trabalho em 62%, o Brasil não tem uma restrição imediata de mão de obra.

Mesmo com a força de trabalho crescendo 0,7% ao ano, é possível que o emprego cresça acima de 1% por vários anos devido à massa de pessoas desempregadas ou subutilizadas no Brasil.

A restrição de trabalho fica ainda menor se considerarmos que a produtividade do trabalho varia com o crescimento da economia. Em economês: a produtividade é uma variável pró-cíclica, sobretudo em uma economia com diferenças tão grandes entre setores, como acontece aqui.

Funcionárias em linha de produção de fábrica de São Paulo
Funcionárias em linha de produção de fábrica de São Paulo - Eduardo Knapp - 23.set.21/Folhapress

A endogeneidade da produtividade vem basicamente de dois fatores: efeito composição (intersetorial) e investimento (intrassetorial).

Começando pelo efeito composição, quando a economia vai mal, as pessoas tendem a se mover de setores de alta produtividade para setores de baixa produtividade, e isso puxa a produtividade média para baixo.

Em termos mais simples, a produtividade média da economia cai quando um engenheiro da Petrobras perde o emprego e tem que se virar como trabalhador de aplicativo. A qualificação da pessoa continua a mesma, mas sua produção e remuneração por hora é diferente entre os dois empregos.

O oposto acontece quando a economia vai bem. Milhões de pessoas que se viram na economia informal de serviços urbanos conseguem melhorar de vida, movendo-se para empregos formais, compatíveis com sua qualificação e de melhor remuneração. Esse movimento eleva a produtividade média da economia.

O efeito composição descrito acima é conhecido há muito tempo. Na década de 1950, Celso Furtado e Arthur Lewis explicaram por que a "dualidade" de uma economia subdesenvolvida (onde um setor moderno convive com um setor atrasado) torna sua produtividade altamente endógena. Nesse contexto, é difícil falar em restrição de trabalho, mas continuemos.

A segunda fonte de aumento induzido da produtividade é a própria expansão da economia. Por exemplo, a elevação da produção traz economias de escala, reduzindo o custo médio de produção. Mais importante, o aumento do nível de atividade reduz capacidade ociosa e aumenta o investimento, que, por sua vez, inclui máquinas, equipamentos e técnicas mais modernas, puxando a produtividade média do trabalho para cima.

Em economês, grande parte do investimento é induzida pela atividade econômica. Quando o PIB sobe, ele puxa o investimento, em um efeito "acelerador" do crescimento. Do lado da oferta, o aumento do volume de capital por trabalhador aumenta a produtividade do trabalho, permitindo que o emprego cresça mais rapidamente sem gerar pressões inflacionárias excessivas.

O leitor deve estar se perguntando: se é tão simples, por que crescemos tão pouco? A resposta é que não é tão simples.

De um lado, o crescimento pode ser barrado por gargalos na oferta de um insumo básico, como energia e combustível, antes de chegarmos ao pleno emprego da força de trabalho.

Do outro lado, apesar de o investimento responder ao crescimento, leva tempo para que o projeto de investimento se complete e o estoque de capital suba. Mais investimento aumenta a demanda antes de aumentar a oferta.

Como o efeito acelerador do PIB sobre o capital eleva a temporariamente demanda por bens e serviços, isso pode gerar inflação e aumento de juro a curto prazo, derrubando a expansão inicial do PIB antes que o investimento reaja (voo de galinha).

Como resolver o problema? Acabou o espaço. Volto ao tema em outra coluna.

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