Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Do 'cansaço com as forças do mercado' ao 'estado apocalíptico'

Cobertura questiona nova intervenção militar e diz que 'caos desacredita ainda mais o centro'

No alto da capa do Financial Times desta segunda (28), ‘Greve de caminhões no Brasil entra no sétimo dia’; na manchete, Washington pressiona Pequim a importar mais ‘carne, frango e soja’ dos EUA, o que atingirá países ‘como o Brasil’
No alto da capa desta segunda (28), ‘Greve de caminhões no Brasil entra no sétimo dia’; na manchete, Washington pressiona Pequim a importar mais ‘carne, frango e soja’ dos EUA, o que atingirá países ‘como o Brasil’

* links do Financial Times, acima: imagem da capa e texto da manchete

No exterior, no final de semana, ecoou o novo apelo às Forças Armadas.

No título do francês Le Monde, “Brasil faz intervir o exército para frear a greve dos caminhoneiros”. Também em destaque, “Mensagem autoritária sublinha fragilidade de governo historicamente impopular”.

O Wall Street Journal, sob o enunciado “Brasil chama militares depois que caminhoneiros desafiam acordo”, publicou que a decisão veio “apenas três meses depois de também ter chamado os militares para enfrentar uma crise de segurança no Rio”.

No Washington Post, “um estado de espírito apocalíptico varreu São Paulo” e outras, deixando ruas vazias e levando o governo a “ordenar que militares rompessem a greve”, sem sucesso. O jornal ouviu, de um motorista na fila de um posto paulistano, que o Brasil se tornou Venezuela.

A cobertura enfatizou o impacto político. Ouvindo analista da consultoria Tendências e outros, o WSJ afirma que “o caos deve desacreditar ainda mais o centro e ampliar o apelo de radicais como o ex-capitão Jair Bolsonaro”.

Segundo o jornal financeiro, ao se vincular aos preços globais, a Petrobras obteve “grande alívio, mas deixou caminhoneiros e outros subitamente expostos a imensas oscilações”. E a mudança “abrupta” foi feita por governo com “dificuldades para ganhar legitimidade”.

Para o WP, “os brasileiros, cansados das penosas políticas defendidas pelo mercado, que demoram a produzir resultado, parecem ter alcançado um ponto de ebulição coletivo”.

Em enunciado anterior da Bloomberg, “Greves revelam insatisfação mais ampla com as forças do mercado”.

 

DEMOCRACIA CONTAMINADA

Usando como título a frase “O encarceramento de Lula é algo que contaminará a democracia brasileira nas próximas gerações”, o espanhol El País entrevistou em Madri o documentarista João Moreira Salles, “herdeiro de um dos maiores bancos da América Latina, o Itaú Unibanco”.

Para Salles, “seja qual for o resultado das eleições, ficará sempre o fantasma de que Lula não poderá disputá-las... O próximo presidente estará sempre à sombra da legitimidade, porque ganhou porque Lula não estava”.

Acrescentou depois: “Em 2019 podemos ter como presidente alguém que seja, se não fascista, protofascista”.

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