Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Trump aumenta pressão sobre Xi, antes do jantar

Até o South China Morning Post, do bilionário comunista Jack Ma, diz que Pequim 'desta vez não vai escapar com promessas vagas'

Às vésperas do prosaico jantar com Xi Jinping em Buenos Aires, no sábado, Donald Trump voltou a ameaçar a China, com telefonema ao repórter Bob Davis que resultou na manchete e na submanchete do Wall Street Journal.

Na entrevista, ele reagiu aos cortes da GM nos EUA cobrando que a montadora pare de fazer carros na China. Mais importante, disse ser “altamente improvável” que aceite o pedido de Pequim para não elevar uma tarifa sobre produtos chineses para 25%.

A entrevista ao WSJ foi manchete também do South China Morning Post, “Trump aumenta pressão sobre Xi antes de cúpula”. O jornal de Jack Ma, do Alibaba, ouviu de analistas e destacou, somando-se à pressão, que a China “desta vez não vai escapar com promessas vagas”.

Ao fundo, o WSJ noticiou que Trump cobrou “aliados” como a Alemanha que não comprem mais eletrônicos da gigante chinesa Huawei.

E o Diário do Povo, do PC chinês, anunciou homenagens aos três principais magnatas de tecnologia do país, Robin Li (Baidu), Pony Ma (Tencent) e Jack Ma —que o jornal divulgou para o mundo que é comunista de carteirinha.

BOLTON, O JANTAR E O ASSASSINATO

A Fox News (acima) destacou, da coletiva do assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, que ele não espera "acordo substancial" no jantar Trump-Xi, do qual vai participar.

E a CNN arrancou de Bolton que ele evitou ouvir a gravação do homicídio do jornalista do Washington Post, Jamal Khashoggi, mas que Trump não se reunirá com o "príncipe saudita" suspeito do crime, no G20.

CLUBE DE MONSTROS

O filósofo Bernard-Henri Lévy, no Brasil, deu entrevistas ao francês Le Monde e ao espanhol El País. “No clube informal de monstros que está se formando com Trump, Viktor Orban e assim por diante, Bolsonaro é o mais caricatural de todos”, disse ao primeiro. “O mundo está assombrado com a incrível vulgaridade de seus comentários, é pornografia política”, disse ao segundo, acrescentando:

“A vitória de Bolsonaro é uma derrota da esquerda, mas é uma derrota muito mais importante da direita. Bolsonaro a devorou. Ele quer acabar com essa direita liberal, limpa, e em parte conseguiu. Hoje ela está fora do jogo.”

APOCALIPSE BRASIL

O intelectual alemão Oliver Precht publicou “ensaio” no Die Zeit intitulado “Apocalipse Brasil”, afirmando que o objetivo de Bolsonaro é “uma sociedade de classes racista”. Que ele protagoniza “o filme de horror político do nosso tempo” apoiado não só no “egoísmo da elite brasileira, mas” da europeia —que “também se beneficia do subdesenvolvimento estrutural do Brasil”.

LES ÉCHOS VS. FT

No financeiro francês Les Échos, o correspondente Thierry Ogier escreve que Bolsonaro “ensaia se fazer passar por moderado, sem grande sucesso”, citando, entre outras ações, a escolha do “anticomunista radical Ernesto Araújo” para chanceler. Ouve, do "economista liberal" Eduardo Giannetti: "O que vai acontecer quando houver conflitos? Temo que, nesses momentos, o passado de intervenção militar de Bolsonaro volte a galope".

Já o inglês Financial Times, em artigo de John Paul Rathbone, que edita América Latina, defende que Bolsonaro ameaça menos a democracia que o “esquerdista” mexicano López Obrador, que tome posse no sábado. Diz que o brasileiro “indicou tecnocratas de peso para o seu ministério”, citando o mesmo Ernesto Araújo como tal, e que “se ele for longe demais os militares vão cobrá-lo”.

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