Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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El País chega enfim ao paywall, Guardian resiste e paga caro

Europeus que rejeitaram assinaturas digitais começam a se adaptar, mas mercados se afunilam e pode ser tarde

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O Wall Street Journal tem paywall, ou seja, cobra assinatura para permitir a leitura de notícias e opinião online, há 24 anos. O New York Times lançou seu paywall medido ou poroso, que permite acessar até um certo número de páginas sem pagar, há nove.

Os dois jornais nova-iorquinos puderam manter suas redações, em meio à derrocada da publicidade, em parte pela estratégia de assinaturas digitais —e porque, com equipes fortes, mantiveram a qualidade do que ofereciam.

Sequência de capas do londrino The Guardian sobre a NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA) em 2013 - Reprodução

A partir do NYT, o paywall se espalhou. A Folha foi um dos pioneiros no Brasil, adotando em 2012. Mas dois jornais europeus de referência, o madrilenho El País e o londrino The Guardian, decidiram não fazê-lo. Em maio, finalmente, o El País cedeu e estreou o seu.

O novo diretor de Redação, Javier Moreno, indicado há menos de um mês para o cargo, não escondeu o entusiasmo ao participar duas semanas atrás de uma conferência online da colombiana Fundação Gabo (no vídeo, a partir de 31min).

"Sempre houve muita resistência na Redação e no conjunto da empresa a lançarmos este modelo, mas acabamos sendo obrigados, como todo mundo", contou ele.

"A resistência existia em todo o El País, exceto na Redação do Brasil. Eles eram os que mais pressionavam, porque pensavam que no Brasil funcionava. E no fim os números estão mostrando que foi uma aposta certa."

Não quis dar os números, mas acabou assentindo naqueles noticiados pelo site espanhol de mídia Dircomfidencial: em seis semanas, o jornal alcançou 52 mil assinantes só digitais. "Foi muito melhor do que esperávamos", disse Moreno.

"Esse ritmo não vai continuar nos próximos cinco anos, obviamente, mas a curva de crescimento, comparada à de outros que estão nisso há anos, como o NYT, é surpreendente."

Outra surpresa, acrescentou, foi que 20% das assinaturas digitais foram feitas fora da Espanha, sobretudo no México, Redação que ele comandava até se tornar diretor em Madri. A edição Brasil do site é a única que segue sem cobrar, por enquanto.

Também participou da videoconferência o diretor do Instituto Reuters, Rasmus Nielsen, que apresentou dados de um estudo aprofundado sobre assinaturas online em três mercados, EUA, Reino Unido e Noruega, e concluiu:

"Nos três, o padrão foi winner-takes-most [vencedor-leva-a-maior-parte]: Um número limitado de títulos nacionais responde por uma fatia muito grande de todas as assinaturas digitais. Mostra uma tendência de poucos vencedores."

Ou seja, depois de tanto resistir, o El País pode ter sido salvo na undécima hora. No Reino Unido, onde segundo Nielsen os "vencedores" são Times e Telegraph, o Guardian segue de fora.

Fincou pé numa estratégia em que "apoiadores" podem "oferecer ajuda financeira" ao site —e só com o aplicativo The Guardian Daily, lançado em outubro, adotou algo mais próximo do paywall, ainda assim para um produto de interesse restrito.

Após cinco anos de cortes de custo, inclusive ou sobretudo de sua Redação nos EUA, o jornalismo que pratica está distante daquele que assombrou o Ocidente, sob Alan Rusbridger, editor por 20 anos, até 2015.

Desde então, não se veem mais coberturas como a da NSA (capas no alto), revelando os serviços prestados por algumas das maiores empresas de tecnologia para espionagem política e comercial —em países como o Brasil.

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