Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Nos EUA, Redações fecham, outras investem e crescem

Daily News entrega imóvel em Nova York, enquanto New York Times acrescenta perto de 300 jornalistas

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Os emails dos executivos chegaram na quarta (12) aos profissionais de títulos tradicionais como The Morning Call, da Pensilvânia, e Orlando Sentinel, da Flórida. “A empresa decidiu vagar permanentemente” a Redação, entregar o imóvel.

Os jornalistas seguem em isolamento, agora sem ter para onde voltar. No caso do Morning Call, estava há cem anos no mesmo lugar e chegou a contar mil profissionais. No Sentinel, 69 anos.

As razões dadas são a queda na publicidade, acelerada pela pandemia, e a indefinição quanto à volta, que muitos jornais americanos, inclusive os maiores, jogaram para 2021.

Ilustração do Washington Post para extrato do livro 'Ghosting the News', escrito pela colunista Margaret Sullivan - Reprodução

A rede Tribune, dona dos dois, fechou outras três Redações, inclusive do Daily News, "O jornal da cidade de Nova York". Foi notícia nos concorrentes New York Times e Post, em tom demasiado fúnebre.

O tabloide está saindo, na verdade, de um endereço que ocupava há menos de sete anos. Já havia deixado em 1995 o seu prédio histórico, tombado para preservação, na rua 42 com Segunda Avenida —ao lado de onde trabalhavam os correspondentes da Folha.

E seu editor, em conferência com os jornalistas e em nota aos leitores, deu a entender que no final da pandemia talvez já exista uma nova Redação, em outro local, para o jornal que completou seu centenário no ano passado.

Mas o abandono dos imóveis não é restrito aos cinco da Tribune, no jornalismo regional. Os grupos McClatchy, Gannett e Advance anunciaram o mesmo para outros nove.

*

Mais importante que as Redações físicas, o corte de profissionais se espalha e vai inviabilizando cobertura local. Quando a Tribune assumiu o Daily News, há quase três anos, demitiu metade.

É o tema do recém-lançado “Ghosting the News: Local Journalism and the Crisis of American Democracy” (Columbia Global Reports), da colunista de mídia do Washington Post, Margaret Sullivan, ex-editora do Buffalo News, no Estado de Nova York.

“Em meio à pandemia, novas rodadas de demissões devastaram as Redações locais, mais vitais do que nunca para os seus leitores ao cobrir a emergência de saúde pública”, escreve Sullivan.

*

Por outro lado, também nos EUA, existem os casos de sucesso do NYT e do próprio WP. Mark Thompson, CEO do primeiro, anunciou sua saída após oito anos que transformaram o jornal, antes sustentado primordialmente por anunciantes e agora por leitores.

A mudança começou um ano e meio antes de ele chegar, com o lançamento do paywall. Mas a ideia dominante então era que havia um limite, pouco mais de meio milhão de assinantes, e foi o que Thompson buscou romper.

“O que fazer para estimular crescimento?” era a questão, recorda ele no podcast Recode. “De 2014 em diante, nós colocamos dinheiro na Redação, adicionamos jornalistas, enquanto outras cortavam custos, ficavam menores.”

Agora o NYT tem “cerca de 250, 300 a mais”, atingindo por volta de 1.700 profissionais. “Há uma coisa que eu quero dizer: Este é um momento em que, se você é Reed Hastings, Netflix, você vai derramar dinheiro em conteúdo. Porque é o que você quer vender.”

Além disso, foram necessários “muitos, muitos cientistas de dados” e um produto “modelado em torno do usuário e de seus padrões de comportamento”.

Foi o que “mudou tudo, mudou a Redação”, hoje com uma base editorial na Europa e outra na China, em Hong Kong, sempre no ar. Cita a cobertura do atirador de Las Vegas em 2017, que matou 58 e feriu mais de 400:

“Aquilo foi editado de Hong Kong, porque a chefia naquele momento era lá. Agora você tem um sistema global. Mais que isso, o leitor está mais presente para a Redação, que reconhece ter um público muito maior. Temos tido audiências mensais de 200 milhões, 250 milhões.”

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