Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Gigantes pagam e geram temor por independência na mídia

Algumas instituições do jornalismo começaram a dar sinais de abrandar cobertura nos EUA

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De tempos em tempos, a Columbia Journalism Review, ligada à Universidade Columbia, “segue o dinheiro” no jornalismo americano. Não de assinaturas ou anúncios, mas daqueles que projetam influência.

Há dois anos, levantou “como o Facebook e o Google se tornaram dois dos maiores financiadores de jornalismo no mundo”. Concentrou-se nos recursos distribuídos para checagem e treinamento ou para organizações acadêmicas de Nova York ao Arizona e à Flórida.

Mostrou que foi uma resposta às pressões, que surgiam na Europa, por remuneração do jornalismo pelas plataformas. “Em sentido muito concreto, o financiamento começou como controle de danos, uma forma de conter a cobertura negativa sobre furto [de conteúdo].”

Na Columbia Journalism Review, com trocadilho, 'Os guardiões de Gates no jornalismo' - Reprodução

Um novo e amplo levantamento se volta agora para outra gigante americana de tecnologia, a Microsoft, ou, melhor, para a filantropia de Bill Gates (imagem acima).

A partir do exame de 20 mil doações da Fundação Gates feitas até o final do primeiro semestre, o autor, Tim Schwab, avalia que mais de US$ 250 milhões foram para veículos jornalísticos.

A lista abrange, entre outros, a rede americana NBC, o canal de notícias Al Jazeera, do Qatar, os jornais londrinos Financial Times e The Guardian, a plataforma Medium, a revista americana The Atlantic, a cadeia Gannett, do USA Today, e o diário francês Le Monde.

A motivação para o levantamento, ao que parece, foi a presença maior e laudatória de Gates na cobertura da pandemia. Anota, por exemplo, que ele foi defendido de acusações, ligadas aos seus investimentos em vacina, por serviços de checagem que recebem dinheiro da fundação.

Gates e sua organização não são alvos recentes de escrutínio. A própria CJR produziu algo semelhante dez anos atrás, quando destacou a cobertura acrítica que ele vinha tendo na rede pública de televisão, PBS, que recebia recursos da fundação.

O autor daquele texto de 2010, Robert Fortner, produziria um outro em 2018, para o holandês De Correspondent, questionando a prioridade dada por Gates à pesquisa de algumas doenças, como malária, em detrimento de outras ou da saúde em geral.

É talvez o episódio mais revelador, como recuperado agora, com a proposta enviada na época pela fundação ao De Correspondent:

“Normalmente, gostamos de ter uma conversa com o editor que contrata os freelancers com quem estejamos nos engajando, tanto para entender como podemos ajudá-lo quanto para formarmos um relacionamento de longo prazo.”

O site holandês não quis conversa. A fundação descreve hoje o episódio como parte de suas “relações normais de mídia” e, sobre a lista, responde:

“Os recebedores das doações são alguns dos veículos mais respeitados do mundo. A linha de questionamento [da CJR] implica que eles teriam comprometido sua independência ao reportar sobre saúde global com financiamento da fundação. Contestamos fortemente.”

Significativamente, o trabalho foi “apoiado por bolsa da Fundação Alicia Patterson”, da família que criou jornais nova-iorquinos como Daily News e Newsday.

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