Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nelson de Sá

Biden ganha apoio da ciência, mas precisa é dos evangélicos

Rede latino-americana de desinformação mantém, via mídia social, 'um ecossistema independente do jornalismo laico', diz First Draft

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Começou pela Lancet, há um mês e meio. Em editorial sobre a eleição americana, a publicação médica fundada em 1823 não endossou Joe Biden, mas deixou clara a crítica ao atual presidente. “O governo anticientífico de Trump despriorizou a saúde e a assistência médica”, publicou.

Agora é o New England Journal of Medicine, com seu primeiro editorial sobre eleições em 208 anos. Mesmo evitando endossar Biden e citar Trump, evidenciou sua posição:

“Nossos líderes atuais minaram a confiança na ciência, causando danos que vão durar mais do que eles. Em vez de confiar no conhecimento especializado, o governo se voltou para charlatães que obscurecem a verdade.”

Acrescentou que a verdade científica não é “nem liberal nem conservadora”. Máscaras e isolamento funcionam, “não são opiniões”, afirmou seu editor-chefe à CNN, depois.

Fora da imprensa médica, também a Scientific American, de 1845, soltou editorial, com a mesma argumentação e a ilustração acima, mas endossando Biden:

“As evidências e a ciência mostram que Trump prejudicou gravemente os EUA e seu povo —porque ele rejeita as evidências e a ciência. É hora de tirar Trump e eleger Biden, que tem um histórico de ser guiado pela ciência.”

*

A aparente unanimidade científica, contra Trump, não esconde que ele e seu adversário estão mais preocupados com os votos cristãos.

Mais especificamente, com os evangélicos pentecostais de origem latino-americana da região de Orlando, “um campo de batalha crucial para os democratas que buscam contrabalançar a força dos republicanos entre os cubano-americanos do sul da Flórida”, segundo o Washington Post.

Uma vitória no estado, se a eleição for apertada, é vista como essencial. Biden voltou para Orlando na sexta (9). Trump estaria lá no mesmo dia, mas cancelou após pegar Covid —e a programação mais recente prevê um comício seu na próxima segunda (12).

Ecoando o que se ouve no Brasil, por exemplo, no recém-lançado “Povo de Deus” (Geração Editorial), o grupo que os dois candidatos estão visando não seria coeso, monolítico, diferentemente dos evangélicos brancos, pró-Trump.

Os evangélicos latinos seriam menos voltados a temas morais, como aborto, e mais a questões como escola pública e racismo, parte da mensagem de Biden. Mas o democrata só lançou sua ofensiva sobre Orlando há três semanas, talvez tarde demais.

Um dos problemas é que o ex-vice de Barack Obama enfrenta uma rede online de desinformação, ao largo da cobertura tradicional. Um dos rumores, citado pelo Post, é que o católico Biden forçaria os outros cristãos a se submeterem ao papa.

*

O projeto First Draft News, baseado em Harvard e que combate fake news com apoio de Google e outras, produziu longo relato sobre a rede de desinformação em torno da pandemia nas comunidades evangélicas da América Latina, inclusive brasileiras.

“A conexão com a diáspora latino-americana nos EUA é o que a torna motivo tão grande de preocupação”, alerta.

Publicado no Nieman Lab, destaca que “veículos cristãos trabalham em conjunto com líderes religiosos, compartilhando o conteúdo uns dos outros, para manter um ecossistema de mídia independente do jornalismo laico”.

Exemplifica com o vídeo de um pastor mexicano, com dois milhões de visualizações, defendendo um alvejante como cura para Covid e questionando a vacinação, que introduziria um chip no corpo das pessoas. O alvejante teria levado à morte, entre outros, uma criança de cinco anos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.