Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Revelações da reta final nos EUA foram presas 'num canto furioso'

Levantamento mostra que cobertura sobre filho de Biden se restringe aos veículos de Rupert Murdoch

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Ao mesmo tempo que Trump se esvazia, cresce o conflito dentro do grupo do magnata Rupert Murdoch, seu sustentáculo de mídia.

Na quinta (22), uma hora e meia antes do último debate da campanha americana, a seção de opinião do Wall Street Journal —de viés ultraconservador, lembrando a Fox News, também do grupo— abriu a sua mais recente batalha com a Redação do próprio jornal.

Jogou no ar uma coluna que reproduzia, sem seguir padrões de reportagem, sob a coberta de ser opinião, uma nova denúncia contra Joe Biden, que foi usada em seguida por Trump, durante o debate.

Pela manhã, na sexta, a Redação respondeu com uma reportagem ouvindo o outro lado, que nega, e informando que “registros da empresa revisados pelo WSJ não mostram qualquer papel de Biden” no empreendimento.

Mais algumas horas e um editorial, parte da seção de opinião, saiu em defesa da coluna e suas “novas provas”. “Embora Trump tenha exagerado”, acrescentou o texto.

Há meses a Redação do WSJ, uma das maiores e mais rigorosas no mundo, vem cobrando do grupo uma “distinção clara entre notícia e opinião”, sem sucesso, o que não deve mudar até o dia da votação.

O conflito chegou à própria família, com a saída barulhenta de James Murdoch do conselho das empresas, que já estavam sob o comando executivo de seu irmão Lachlan, 49.

James, 47, em entrevista ao New York Times há duas semanas, afirmou ter se afastado porque, em suma, “confronto de ideias não deve ser usado para legitimar desinformação”, referência mais ou menos aberta à Fox News e aos jornais do grupo, que vão da Austrália ao Reino Unido.

“Em grandes organizações de notícias, a missão realmente deveria ser apresentar os fatos para dispersar dúvidas, não semear dúvidas, para obscurecer fatos”, acrescentou.

O questionamento, é claro, não se limita às vozes internas. O ex-presidente Barack Obama, em campanha por Biden, tomou como alvo preferencial a Fox News. Trump seria só “sintoma” da desinformação, disse ele ao Pod Save America, um podcast democrata.

Lembrou áreas em que foi o mais votado, mas nas quais não conseguiria resultado parecido, agora. “A razão é que essas pessoas me veem apenas através do filtro da Fox News.”

Mais do que romper a bolha dos veículos de Murdoch e assemelhados, seus concorrentes liberais, encabeçados pelo New York Times, vêm buscando manter sua desinformação —e também informação— restrita à própria bolha.

O cerco à primeira reportagem sobre o filho de Biden, do New York Post, incluiu o relato do NYT de que repórteres do tabloide de Murdoch não permitiram que os seus nomes fossem creditados no texto.

O resultado do cerco é que, segundo levantamento da organização Atlantic Council (com a ilustração acima), de Washington, 85% do conteúdo mais popular sobre o filho de Biden é de veículos como NY Post, Fox News ou a Fox Business, também de Murdoch.

No ar, enquanto a Fox News dedica mais tempo aos emails do filho de Biden do que dedicou aos emails da campanha de Hillary Clinton divulgados pelo WikiLeaks em 2016, CNN e MSNBC vão na direção contrária, dando menos atenção agora do que há quatro anos, segundo o levantamento.

“Em 2016, as divulgações do WikiLeaks foram uma história gigantesca, coberta através de todo o espectro político”, afirmou um pesquisador do Atlantic Council ao NYT. “Em 2020, os vazamentos de Hunter Biden estão amontoados num canto furioso e intensamente partidarizado.”

*

Enquanto isso, na Austrália, origem do magnata de 89 anos, o ex-primeiro-ministro Kevin Rudd lançou petição para investigar o domínio de Murdoch sobre a mídia do país. Em duas semanas, alcançou 376 mil assinaturas, chegando a derrubar o site do Parlamento.

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