Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Índia se abre para os EUA e ganha alívio na cobertura

Jornalistas indianos questionam 'tentativa de intimidar, assediar e sufocar a mídia livre' após cobertura de protesto em Nova Déli

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Nesta semana, o TikTok, que já havia sido suspenso pelo governo indiano em junho do ano passado, foi banido permanentemente.

Ao mesmo tempo, o YouTube divulgou que seu clone de TikTok, chamado Shorts, que a plataforma lançou para testes no mercado indiano dois meses depois da suspensão do concorrente chinês, foi aprovado e vai crescer.

“Os vídeos em nosso Shorts, que ajuda as pessoas a assistir a vídeos curtos no YouTube, estão recebendo impressionantes 3,5 bilhões de visualizações diárias”, disse Susan Wojcicki, CEO da plataforma e uma das primeiras funcionárias do Google.

“Estamos ansiosos para expandir o Shorts para mais mercados neste ano”, acrescentou. A ideia é levá-lo para o mercado americano, que ainda não se definiu sobre banir o TikTok, como Donald Trump encaminhou mas a Justiça vem barrando.

Mais do que um campo de testes, a Índia do primeiro-ministro Narendra Modi se abriu para as plataformas americanas como mercado consumidor e também como fornecedor de conteúdo.

Bollywood já prioriza, para seus filmes e séries, os serviços de streaming de Amazon, Netflix e Disney. Esta última, por sinal, deve muito dos números elevados de lançamento do Disney+ aos assinantes que herdou, com a compra da indiana Hotstar.

Agricultores e policiais entram em choque em Nova Déli, na Índia, em 26 de janeiro de 2021, Dia da República - Xinhua

A aproximação entre o primeiro-ministro e as plataformas foi mais flagrante com o Facebook. Meses atrás, o Wall Street Journal revelou que a executiva indiana da rede social havia favorecido o partido de Modi por anos, permitindo até incitação à violência contra muçulmanos.

Como acontecia sob Trump, o governo indiano está nos planos de Joe Biden para o esforço econômico e também militar de contenção da China —o que foi explicitado por seu “czar para a Ásia”, Kurt Campbell, há duas semanas na Foreign Affairs:

“Os EUA devem buscar órgãos como o D10 proposto pelo Reino Unido (G-7 mais Austrália, Índia e Coreia do Sul) para questões urgentes de comércio, tecnologia, cadeia de abastecimento e padrões. Outras coalizões podem se concentrar na dissuasão militar, expandindo o Quad composto por Austrália, Índia, Japão e EUA, e no investimento em infraestrutura, por meio da cooperação com o Japão e a Índia.”

Tamanha proximidade se estende também ao noticiário político. Na última semana, o New York Times mostrou com vídeo como a vice de Biden, Kamala Harris, de mãe hindu, é “celebrada na Índia”, em sua “aldeia ancestral”.

Enquanto isso, os protestos de agricultores indianos, que estão para completar seis meses e levaram dezenas à morte, parte deles por suicídio, recebem cobertura internacional esporádica ou abertamente negativa, pró-Modi.

As manifestações são lideradas por sikhs, uma das minorias religiosas do país —e começam a surgir alertas, ao menos na imprensa não governista da Índia, de mais conflito étnico a caminho, supostamente estimulado pela imprensa governista.

Num episódio com maior potencial de repercussão no Ocidente, forças policiais vinculadas ao partido de Modi, BJP, lançaram denúncias formais contra editores e repórteres que escreveram online sobre o amplo protesto na capital, Nova Déli, na última terça-feira (26), o Dia da República.

Jornais mais críticos como Hindu noticiaram que a associação dos editores indianos reagiu, com algum eco nos EUA. “Uma tentativa de intimidar, assediar e sufocar a mídia livre”, questionaram os jornalistas.

PS 10h, 30/1 - Por via das dúvidas, Modi cortou a internet no entorno de Nova Déli

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