Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nelson de Sá

Fox News e CNN se preparam para a vida sem Trump (e TV paga)

Canal pró-republicano fará 'oposição leal' a Biden; Covid 'foi muito boa para a audiência', diz executivo da Warner

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Transmissão amadora, com imagem caindo, iluminação improvisada, sem terno, com sono.

Foi assim que dois dos principais executivos da TV nos EUA, Lachlan Murdoch, CEO da Fox Corporation (Fox News), e Jason Kilar, CEO da WarnerMedia (CNN, HBO), traçaram o futuro do setor numa conferência de mídia do banco Morgan Stanley.

Falando em horas separadas, concordaram em muita coisa. Por exemplo, sobre o impacto positivo da Covid.

Lachlan Murdoch, da Fox, em conferência do Morgan Stanley na quinta, 4 de março de 2021 - Reprodução

São negócios que dependem da TV paga, que já vinha em queda de assinantes e passou a ser ameaçada pela derrota de Donald Trump, um chamariz de espectadores por cinco anos.

“Acontece que a pandemia foi muito boa para a audiência, é uma grande parceira para o ciclo noticioso e não vai desaparecer tão cedo”, afirmou Kilar, que negou recentemente a especulação de que poderia vender a CNN.

“Nós estamos vendo o valor do noticiário ao vivo, claramente, ao longo da pandemia”, disse Murdoch, filho do magnata Rupert. “Ele nunca foi tão evidente.”

A frase do executivo da Warner, sobretudo, causou espécie, a ponto de ele precisar se desculpar após a entrevista. Mas estava dado o recado: ambos se mostraram aliviados com as evidências de que seus canais não dependem de Trump para sobreviver.

Outro ponto em que concordaram, além da resiliência do noticiário ao vivo, “live news”, foi quanto à transmissão esportiva, “live sports”. São as duas prioridades de ambos para seus canais lineares, no que esperam ser uma lenta decadência da TV paga.

Um terceiro ponto de concordância, talvez o mais importante, é quanto ao futuro digital de Fox News e CNN, para além dos respectivos sites, considerados bem-sucedidos em publicidade. Não detalharam o que planejam estrategicamente, nem poderiam, mas deixaram pistas.

“Nós precisamos garantir que mais e mais do conteúdo seja endereçável, que um profissional de marketing possa escolher quem ele deseja atingir”, disse Kilar, sobre a CNN.

“A segunda coisa que precisamos fazer é a versão com anúncios do HBO Max”, prosseguiu, sobre a plataforma de streaming do grupo. “Será uma oportunidade fantástica para os profissionais de marketing atingirem cirurgicamente os fãs com suas mensagens.”

Ao ser pressionado sobre a ausência do conteúdo de Fox News e outros canais em streaming, Murdoch também respondeu indiretamente.

“Nós estamos entrando de cabeça no mundo direto-ao-consumidor com a aquisição da Tubi”, disse ele, sobre a plataforma de streaming comprada pelo grupo no ano passado, que se financia por anúncios.

“Não queremos competir em vídeo on demand por assinatura. Acreditamos que podemos vencer no mundo dos vídeos com publicidade.”

De tudo o que foi dito na conferência do Morgan Stanley, o que mais ecoou foi um comentário do executivo da Fox, admitindo finalmente que o canal não é “justo e equilibrado”, seu slogan até 2017.

“Estamos bastante focados na centro-direita”, afirmou Murdoch. “Setenta e cinco milhões votaram por um presidente republicano, apesar da sua personalidade. Eles têm um forte sentimento sobre essas posições políticas. E é isso o que representamos.”

Prometeu “oposição leal” ao governo Biden, como aquela feita antes pela MSNBC, “a maior beneficiária do governo Trump, do ponto de vista da audiência”. E provocou: “Vocês vão ver como a nossa audiência vai crescer nos próximos quatro anos”.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.