Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu guerra comercial

EUA miram Huawei e acertam o mercado mundial de chips

Controle de exportação gerou escassez global e concentrou fabricação em Taiwan; China acelera produção própria

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O cerco de Donald Trump à Huawei começou há exatamente três anos, com um primeiro veto a negócios de operadoras americanas com a empresa chinesa —e com a prisão no Canadá, por ordem dos EUA, de Meng Wanzhou, diretora e filha do fundador.

Mas a ação de maior impacto global veio em 15 de maio de 2020, quando Trump vetou o uso pela empresa de qualquer tecnologia com participação americana. Foi então que tudo começou, na cronologia do financeiro Nikkei, de um dos países mais atingidos pela medida, o Japão, e que vem publicando uma série de reportagens:

"A crise dos chips é uma consequência da decisão tomada em maio, de impedir que empresas ao redor do mundo usem maquinário e software desenvolvido nos EUA para projetar ou produzir chips para a Huawei."

Naquele segundo trimestre de 2020, a empresa passou Apple e Samsung, usando os chips com tecnologia americana, e se tornou temporariamente a maior fabricante de smartphones no mundo.

Ato contínuo, saiu às compras, antes que as portas se fechassem. Limpou os estoques da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), a maior fabricante do mundo.

"A farra de aquisição da Huawei acabou levando à escassez aguda", diz o Nikkei (ilustração acima). Não só pelo que comprou, mas por estimular concorrentes, inclusive a chinesa Xiaomi, a fazer o mesmo.

Em setembro, Trump estendeu o veto da tecnologia americana à Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC), a maior fabricante de chips na China.

"As ações dos EUA contra a Huawei e a SMIC causaram uma concentração da produção mundial em Taiwan", conclui o Nikkei. A ilha passou a sofrer pressão de governos e empresas de Japão, Alemanha e dos próprios EUA, "mas as coisas pouco melhoraram".

Pelo contrário, mal começou o governo Joe Biden, as maiores montadoras, hoje também dependentes de chips, sobretudo japonesas, alemãs e americanas, passaram a parar fábricas e demitir, por falta de suprimento. Foi o que fez a GM também no Brasil.

E Biden ampliou a aposta de Trump. Uma comissão de segurança nacional comandada pelo ex-presidente do Google, Eric Schmidt, soltou relatório propondo coibir a liberdade chinesa de adquirir equipamento para produzir chips. E que os EUA busquem voltar a produzir em casa, para não depender de uma ilha que pode ser ocupada a qualquer momento pela China.

Daí a "cúpula do chip" convocada por Biden nesta semana, com GM, Google, a coreana Samsung e a taiwanesa TSMC, para propor "o retorno da fabricação de chips aos EUA", prometendo US$ 50 bilhões de investimento estatal.

Enquanto isso, nas chamadas do South China Morning Post e do financeiro Caixin: "China se torna o maior comprador de equipamento para produzir chips", segundo os dados de 2020 divulgados pela associação americana do setor, SEMI.

Deixou Taiwan para trás e "está investindo agressivamente em novas fábricas, como parte de uma meta de longo prazo de reduzir sua dependência da tecnologia de origem americana".

Também nesta semana, Peter Wennink, presidente da holandesa ASML, maior concorrente da TSMC em chips de alta tecnologia, afirmou durante um evento online que o controle de exportação imposto por Trump e agora Biden não só vai fracassar em conter o avanço tecnológico da China, mas prejudicar os EUA e também a Europa.

"Vai custar às economias não chinesas muito emprego e muita receita", desabafou.

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