Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu mídia jornalismo

Mais uma vez, a cobertura está no centro das operações de uma guerra

New York Times reconhece ter sido 'enganado' por militares, em ação para 'aumentar o número de cadáveres em Gaza'

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Do canal de notícias chinês CGTN ao site Columbia Journalism Review, ligado à universidade americana, a cena que marcou a cobertura da primeira semana de guerra não declarada, em Gaza e Israel, foi de uma transmissão ao vivo da Al Jazeera, o canal de notícias do Qatar.

No centro da cidade de Gaza, a repórter Youmna All Sayed estava no alto de um prédio vizinho quando foi destruído por mísseis o edifício Al-Shorouk, de 14 andares, onde ficavam as redações de sete veículos. Ela se escondeu em meio às explosões, mas seguiu narrando.

Foi na quarta-feira (12), o mesmo dia em que outro prédio de Gaza, Al-Jawhara, de dez andares, havia sido destruído por mísseis, ainda de madrugada. Nele, eram 14 veículos, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras. E teria havido mortes, de acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas.

Disse a RSF, que é baseada em Paris: “Os jornalistas palestinos, que já lutavam para trabalhar nas condições impostas pelas autoridades israelenses, estão mais uma vez na linha de frente. Eles não devem, em hipótese alguma, ser tratados como se fossem partes no conflito”.

Disse o CPJ, baseado em Nova York: “É totalmente inaceitável que Israel bombardeie e destrua os escritórios dos meios de comunicação e ponha em perigo a vida dos jornalistas, especialmente porque as autoridades israelenses sabem onde esses meios estão localizados”.

O estrago estava feito. No comentário da própria Youmna All Sayed, destacado pela CJR: “Mirar um edifício com escritórios de mídia é uma mensagem clara, da ocupação israelense, de que não quer que nenhum meio diga o que está acontecendo na Faixa de Gaza”.

PS 11h - Um terceiro edifício que abrigava mídia em Gaza, agora o Al-Jalaa, de 11 andares, onde ficavam a própria Al Jazeera, a Associated Press e outros, foi destruído por mísseis, ao vivo no canal. A agência americana soltou nota se dizendo "horrorizada".

Mas talvez o episódio mais significativo, nesta primeira semana, tenha ocorrido fora das câmeras. O americano Drudge Report destacou nas chamadas de sexta desde cedo, em letras vermelhas, “Movimento falso das Forças de Defesa de Israel levou a ataque maciço”.

Referia-se ao tuíte do perfil dos militares na noite de quinta, em inglês, dizendo que “tropas terrestres estão atacando na Faixa de Gaza”, o que levou o New York Times, entre outros, a manchetar que “Israel enviou seus militares para dentro de Gaza, em ampla escalada”.

Duas horas e 42 minutos depois, o NYT se corrigiu, compartilhando que os militares “esclareceram que suas forças se envolveram em combates com militantes palestinos, mas não entraram em Gaza”. Novamente, o estrago estava feito, pelo relato do Jerusalem Post.

Linkado por Drudge, o jornal israelense reportou como a invasão foi insinuada ao longo da quinta, pelos próprios militares e até pelo primeiro-ministro, e como “a imprensa estrangeira pulou sobre o tuíte, sites de mídia ao redor do mundo”, mas sobretudo americanos, citando a rede ABC e o Washington Post. Em suma, diz o JPost:

“O que aconteceu foi que 160 aeronaves foram preparadas para um bombardeio maciço. Seu alvo era uma rede subterrânea de túneis que esconde mísseis antitanque e esquadrões de morteiros. Devido à notícia em mídia estrangeira de uma incursão terrestre, o Hamas e a Jihad Islâmica enviaram a primeira linha de defesa para assumir posições. Assim que saíram dos túneis, foram expostos aos aviões.”

PS 7h - Um dia depois, o NYT reconheceu ter sido "enganado" (deceived, duped) e "a possibilidade de que os militares tenham usado a mídia para aumentar o número de cadáveres em Gaza". Afirmou que não foi só pelo tuíte, mas também em conversas diretas.

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