Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nas pegadas da Guerra Fria, cobertura se divide em versões

Questionada por Xinjiang, China responde com relatórios sobre direitos humanos nos EUA e Austrália

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Publisher do tabloide Pingguo Ribao (Apple Daily) em Hong Kong, crítico de Pequim, Jimmy Lai foi condenado nesta sexta (28) a mais 14 meses de prisão —e mal se percebeu, fora da China.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, chegou a tuitar sobre Hong Kong, mas criticando mudanças na legislação eleitoral, burocraticamente. Lai deixou de ser prioridade na cobertura americana antes mesmo da posse de Blinken e Joe Biden.

Foi há seis meses, quando veio à tona que ele havia financiado através de seu jornal, no dizer da NBC, um “documento falso de inteligência” com “teoria conspiratória” envolvendo Biden e seu filho Hunter em negócios na China. Ele nunca escondeu sua preferência por Trump.

Junto com Jimmy Lai, foi-se a prioridade à oposição de Hong Kong na artilharia diplomática e midiática do novo governo contra a China. As atenções se voltaram para Taiwan e, em especial, Xinjiang.

Acompanhando o antecessor Mike Pompeo, que um dia antes de sair do cargo proclamou o “genocídio” praticado por Pequim na região, Blinken abraçou a expressão e se concentra nos direitos humanos de Xinjiang. Já impôs sanções a burocratas na região, por “genocídio”.

A China tenta responder na mesma moeda, contra os EUA e a Austrália, governo que mais se alinha à política americana de cerco a Pequim. A agência estatal de notícias Xinhua e outros divulgaram, no dia seguinte às sanções, seu Relatório sobre Violações dos Direitos Humanos nos Estados Unidos em 2020.

Antes da recente onda de ataques a chineses e outros asiáticos, destacava a “discriminação sistemática” de minorias étnicas no país, por exemplo, “um em cada quatro jovens asiático-americanos é alvo”.

Fez o mesmo com a Austrália, com documento cobrando no Conselho de Direitos Humanos da ONU o fechamento dos centros de detenção mantidos em países vizinhos, para imigrantes e refugiados.

A denúncia contra o governo australiano ainda ecoou por veículos daquele país (acima, um dos centros na ABC australiana) e agências ocidentais de notícias, mas o relatório sobre os EUA se restringiu à mídia chinesa.

Na direção contrária, um relatório de acadêmicos australianos foi divulgado neste mês pelo New York Times, dizendo que a China “tem usado seu poder para criar uma alternativa à mídia global dominada por veículos como BBC”.

A estatal britânica e também a Voice of America são apresentadas como em refluxo hoje, diante da penetração mundial da Xinhua e até mesmo do China Daily —este o jornal em inglês para o exterior mantido pela chancelaria chinesa.

Seja como for, o quadro, reconhece o jornal, remete à Guerra Fria. A expressão agora é de uso cotidiano no noticiário dos EUA e da China, usualmente como um risco potencial, uma ameaça.

Porém em países que tentam se equilibrar, como a Alemanha, “Guerra Fria” já aparece como referência de realidade. Assim, ao defender a manutenção de contratos com Rússia e China, como fez nesta semana, a chanceler Angela Merkel argumenta que “o que foi possível na Guerra Fria deve ser possível hoje”.

Uma das exposições de grande público neste momento na Alemanha, segundo a agência DPA, foi intitulada Nas Pegadas da Guerra Fria.

Com atrações como um bunker nuclear e a cobertura de guerras da Coreia ao Afeganistão, além do “boicote recíproco” dos Jogos de Moscou e Los Angeles, “mostra aos visitantes a época em que o medo de guerra atômica ofuscou a vida cotidiana”.

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