Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Sanders tenta conter 'os tambores da Guerra Fria' nos EUA

'Não acredite no hype', pede senador na Foreign Affairs; na China, diplomata defende 'guerra de opinião pública', na Guancha

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Escrevendo nesta quinta (17) na Foreign Affairs, que concentra o debate de política internacional nos Estados Unidos, o senador independente Bernie Sanders soou o alarme: "Não comecem outra Guerra Fria". Era o fim da viagem de Joe Biden à Europa, em que os sinais foram nessa direção, contra a China.

Sanders, que preside a comissão de orçamento do Senado, começa o texto se mostrando impressionado com a troca de sinal no "consenso" americano sobre a nação mais populosa do mundo.

Ao fundo, os senadores Bernie Sanders, presidente da comissão de orçamento, e Chuck Schumer, líder da maioria democrata, conversam durante reunião da comissão no Capitólio, em Washington, nos EUA, em 16 de junho de 2021 - AFP

Perto de duas décadas atrás, "a mídia corporativa e praticamente todos os especialistas em política externa insistiam" em se abrir comercialmente para a China, para permitir às empresas americanas maior acesso ao mercado consumidor já então crescente.

E agora "o pêndulo mudou de otimista demais sobre as oportunidades oferecidas pelo comércio irrestrito com a China para falcão demais".

Lembrou que semanas atrás o principal assessor de Biden para a Ásia, Kurt Campbell, proclamou que "o engajamento chegou ao fim", com a China, e daqui para a frente "o paradigma dominante será a competição", o que repercutiu por jornais chineses, japoneses, indianos.

Nos EUA, Sanders não diz, mas a mudança foi marcada pelo resgate da teoria do laboratório de Wuhan, como origem do coronavírus, num noticiário negativo agora sem trégua sobre Pequim.

"Hoje, em vez de exaltar as virtudes do livre comércio e da abertura em relação à China, o establishment bate os tambores para uma nova Guerra Fria, elencando a China como uma ameaça existencial para os Estados Unidos."

Lembra o precedente que levou às "guerras sem fim", inclusive a invasão do Iraque, quando se explorou um consenso semelhante, provocando a ascensão de "xenofobia e intolerância" no país, então contra as comunidades árabes e muçulmanas —e neste momento, sublinha, contra os americanos de origem asiática.

"Não acredite no hype", alerta Sanders. "A pressão crescente por um confronto com a China arrisca dar poder a forças autoritárias e ultranacionalistas em ambos os países."

Mas talvez seja tarde, também na China. Um dia antes do apelo na Foreign Affairs, Lu Shaye, embaixador na França e referência da diplomacia chinesa hoje, deu entrevista na direção contrária, à Guancha (acima, à direita), publicação de Xangai voltada a opinião política.

Descreveu a diplomacia "wolf warrior" como uma "necessidade objetiva" para o país. "Ocidentais usam 'lobo guerreiro' para nos rotular negativamente. Na verdade, são eles, não nós, que são ofensivos e agressivos. Estamos nos defendendo."

Saudando jornais como Global Times, por "participarem da linha de frente do contra-ataque de opinião pública", e o apoio nacionalista dos "netizens", os internautas chineses, Lu proclamou que a era "esconda sua força, aguarde seu momento", da frase célebre de Deng Xiaoping, terminou.

Para ele, o confronto está só começando. "Somos novatos em combater a guerra de opinião pública. É nossa fraqueza. Não formamos um grande sistema [para isso] como o Ocidente. Muitas coisas são para aprender lentamente, aprender a lutar na luta."

A entrevista ecoou da China aos EUA. Procurado pela agência Reuters para comentar, Wang Wen, da Universidade Renmin, de Pequim, disse que ela sinaliza que o pedido recente de Xi Jinping, por uma China "mais amável" para o mundo, não era ordem de recuar.

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