Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu Tóquio 2020

TikTok, que não se importa com medalha, vai vencendo os Jogos

Plataforma chinesa ameaça tomar o lugar da televisão com cenas postadas pelos próprios atletas olímpicos

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Não soou bem o contraste das últimas semanas entre os quadros de medalhas da mídia americana, com os Estados Unidos na dianteira, e aqueles usados no resto do mundo.

Um colunista dos jornais australianos de Rupert Murdoch ironizou a "armação estranha". Outro, do Yahoo Sports, acaba de publicar a coluna "Sorry, America: a China está liderando a contagem de verdade".

Com os Jogos de Tóquio perto de terminar, os EUA ainda podem aparecer na frente, mas a cobertura americana já tenta explicar o que aconteceu.

O New York Times, ao especular a culpa (the blame) para o país estar de volta ao bando (the pack) após dominar as duas últimas edições, diz que foi "um passo atrás após um ano longo e difícil", com períodos de lockdown atingindo a preparação.

Daí o "pesadelo" no 4 por 100, na descrição do Wall Street Journal, e a frustração no skate, que os EUA tanto "pressionaram" para ter nas Olimpíadas, segundo o NYT.

Vídeos do TikTok da ginasta americana Jordan Chiles; no alto, à esq., as ginastas dançam com as apresentadoras do programa Today, da NBC - Reprodução

Mas o problema maior está em como isso se refletiu na audiência da rede NBC, descrita desde a cerimônia de abertura como "desastre" e, novamente, "pesadelo", por Variety e outros. Aí se acrescentam várias explicações, do fuso horário desfavorável à desistência de Simone Biles.

Mas uma história paralela, na recepção de mídia dos Jogos, mostra uma outra realidade da audiência americana —que estaria mudando em relação ao fervor nacionalista das medalhas, para começar.

O ponto de inflexão, ao que parece, foi o célebre salto trêmulo de Biles no dia 27 de julho, que a levou a abandonar provas em sequência.

O programa Today, da NBC, anunciou que ela havia decidido não participar da final por equipes, mas não mostrou o salto, que só acabaria aparecendo na televisão à noite.

Mas naquela manhã e ao longo do dia a cena foi vista em looping pelos usuários americanos e em quase todo o mundo, na plataforma de mídia social TikTok, chinesa.

Um deles segue o salto até o final, com a reação do próprio, "Meu Deus, meu Deus". Em poucas horas já tinha 1,2 milhão de visualizações, mas agora está indisponível, porque os direitos são da NBC.

Foi então que o Washington Post publicou, com pergunta no título, "O TikTok está vencendo as Olimpíadas?".

A ideia central é que hoje não haveria mais fidelidade a uma emissora —ou sequer a um país— mas às pessoas. A busca por posts sobre os Jogos na plataforma traz mais cenas gravadas pelos próprios atletas do que tiradas da transmissão oficial.

E os usuários de TikTok "amam o erro", acima de qualquer medalha.

O site BuzzFeed concluiu algo parecido, "O TikTok olímpico é o melhor". Relatou que "existem TikToks dos atletas compartilhando como a roupa é separada para a lavandeira e como é a lanchonete, os tipos de comida". Também "olímpicos brincando sobre a repressão ao sexo nos Jogos".

Na reta final, o TikTok olímpico parece ter se tornado incontornável, com relatos sobre o fenômeno do USA Today ao NYT e à BBC.

O mesmo programa Today recebeu na quinta (5) a equipe feminina de ginástica —e todos se dedicaram a armar uma cena para a plataforma. Está no ar, no perfil Today with Hoda & Jenna.

Enquanto Biles usava o celular para gravar, as outras ensinaram as apresentadoras a dançar como Jordan Chiles, medalhista de prata, vem fazendo com sucesso no TikTok, com um trecho de "Cognac Queen", de Megan Thee Stallion.

Conclusão do site de tecnologia Gizmodo, "Na próxima, deixe de uma vez o TikTok transmitir os Jogos".

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