Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu Facebook instagram

WSJ expõe um Facebook com tráfico humano e elite impune

Neymar é exemplo de celebridade favorecida pela plataforma, em série de revelações com base em comunicações internas

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Dois anos atrás, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, falou ao programa Axios on HBO, em tom ameaçador, que as empresas do Vale do Silício seriam “esmagadas” por regulação —e mereciam, sim, restrições financeiras e do seu alcance concentrador.

Eram outros tempos. No “recall” desta semana, ele “voltou atrás nas críticas” e, em vez de brigar com as gigantes, “concentrou-se em salvar seu emprego”, no dizer do New York Times. Conseguiu, com campanha milionária bancada em parte pelas próprias Big Techs.

Entre os financiadores identificados estão o dono da Netflix e a mulher do dono do Facebook. A campanha vitoriosa passou a ser vista, em publicações próximas dos democratas, como modelo para as eleições de meio de mandato, no ano que vem, e até para 2024.

Assim, a regulação dos monopólios de tecnologia vai ficando para as calendas, nos EUA de Joe Biden, diferentemente da China de Xi Jinping, que agora pretende dividir em pedaços o Alibaba —ao menos segundo o Financial Times, em notícia ainda não confirmada por sites chineses.

E sobra de novo para o Wall Street Journal de Rupert Murdoch, como já havia acontecido com o magnata na Austrália, manter as Big Techs em xeque. Nesta semana, publicou a série The Facebook Files (logotipo acima), baseada em comunicações internas das plataformas de Mark Zuckerberg obtidas pelo jornalista Jeff Horwitz.

Foram cinco reportagens extensas, com a constatação central de que “o Facebook sabe, em detalhes, que suas plataformas”, como Instagram e WhatsApp, “estão crivadas de falhas que causam danos, muitas vezes de forma que só a empresa compreende inteiramente”.

Dois textos podem ser destacados, dos cinco. O primeiro revelou a existência de uma “elite secreta” de políticos, jornalistas e celebridades de cultura e esporte, entre outros, aos quais é permitido atuar nas plataformas sem respeitar as normas que são impostas aos três bilhões de usuários comuns. Em suma:

“A empresa construiu um sistema que isentou usuários importantes de algumas ou de todas as regras. O programa, conhecido como XCheck, foi planejado como medida de controle de qualidade para contas de perfil elevado. Hoje, protege VIPs da fiscalização normal da empresa.”

Por exemplo, Neymar. “Depois que uma mulher o acusou de estupro, ele postou vídeos no Facebook e no Instagram se defendendo —e mostrando a correspondência no WhatsApp com a acusadora, que incluía fotos dela, nua. Ele a acusou de extorsão. O procedimento padrão do Facebook para lidar com ‘imagens íntimas não consensuais’ é simples: exclua. Mas Neymar estava protegido pelo XCheck.”

Por outro lado, a quarta reportagem da série mostrou, no dizer do jornalista de tecnologia Casey Newton, do Substack, “uma desigualdade persistente na forma como a empresa aborda conteúdo nos EUA em comparação com qualquer outro lugar”, mas sobretudo com o “mundo em desenvolvimento”.

Do tempo gasto pelos funcionários das plataformas de Zuckerberg no acompanhamento de conteúdo, só 13% é voltado para fora dos EUA. O resultado dessa desatenção é brutal; por exemplo, contas são mantidas no ar para “tráfico humano” e “venda de órgãos” mesmo depois de alertas dos funcionários.

Num caso de “empregadas à venda”, o Facebook foi alertado internamente, mas só decidiu agir depois de virar notícia —e em seguida, mais especificamente, “quando a Apple ameaçou remover aplicativos do Facebook da App Store, se não reprimisse a prática”.

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