Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Descrição de chapéu mídia

Guerra Fria de narrativas chega à ficção científica

'O Problema dos Três Corpos', de Liu Cixin, tem duas séries em preparação, pela chinesa Tencent e pela americana Netflix

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Como se pode confirmar pagando R$ 9,90 por mês pelo streaming da Apple, a recém-lançada série de ficção científica "Fundação", que se declara baseada nos livros do americano de origem soviética Isaac Asimov, é uma "fraude".

Foi como descreveu o Nobel Paul Krugman, que se tornou economista exatamente porque queria ser como o matemático que inicia e pontua a história, Hari Seldon. Ele cria uma "fundação" para preservar o melhor da civilização na galáxia.

Já a série tem intrigas palacianas e "soft porn" como "Game of Thrones"; estrela da morte e clones como "Star Wars"; vilões de "Star Trek". Sobretudo, tem heróis para salvar a humanidade, o que é contrário, antitético a Asimov.

Ele começou a publicar "Fundação" em 1942, ganhou o prêmio Hugo de ficção científica em 1966, foi lido por gerações, mas hoje em dia são poucos os ofendidos como Krugman, que parou de assistir no meio da primeira temporada.

A expectativa ou o temor maior agora é por outro vencedor do Hugo, em 2015, "O Problema dos Três Corpos", do chinês Liu Cixin. Que também começou a ser publicado como conto, numa revista de ficção científica, e acabou se transformando em trilogia.

Os três livros já foram publicados no Brasil, em tradução da Companhia das Letras (selo Suma). E estão em produção duas adaptações aguardadas, uma série da gigante americana Netflix, outra da gigante chinesa Tencent.

"Três Corpos" retrata o primeiro contato da humanidade com uma civilização extraterreste e a sombra de uma invasão. Em meio à sombra atual de Guerra Fria, é inevitável esperar versões bem diversas, da americana e da chinesa.

Na Netflix, os criadores são os mesmos de "Game of Thrones", David Benioff e D.B. Weiss, e o elenco recém-divulgado traz nomes também tirados da série de sucesso, como Liam Cunningham e John Bradley.

O anúncio dos atores "caiu como uma bomba" na rede social Weibo, noticiou o nacionalista Global Times, de Pequim. "Espero que a série não se torne uma história sobre gente do Ocidente salvando o mundo", escreveu um netizen.

Dias depois foi divulgado o primeiro trailer da série da Tencent, com estrelas chinesas como Zhang Luyi e Wang Ziwen. Como relatou o Guancha, de Xangai, se os atores da Netflix foram "questionados por fãs dos livros", os da Tencent também não escaparam.

Alguns netizens saudaram o "ganho" no elenco, enquanto outros cobraram mais "sensação épica" do que o vídeo parece indicar —e outros ainda criticaram que o ator Yu Hewei tem aparência leve demais para representar o policial brutamontes Shi Qiang, um dos personagens principais.

De sua parte, também a Netflix sofre críticas em casa. Cinco senadores americanos enviaram uma carta a Ted Sarandos, CEO da empresa, dizendo que Liu Cixin estaria "papagaiando propaganda perigosa do Partido Comunista". Sarandos não cedeu ao lobby.

A série da Tencent deve estrear no início do ano que vem na China, mas ainda não tem previsão de chegar ao Brasil. A da Netflix começa as filmagens neste mês, na China e no Reino Unido, ainda sem prazo para estrear na plataforma.

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