Em meio ao vaivém do noticiário sobre a nova variante, o New York Times publicou logo abaixo da manchete: "China promete 1 bilhão de doses da vacina contra Covid para a África". Depois, sumiu.
Foi em vídeo de Xi Jinping no Fórum sobre a Cooperação China-África, que reúne o chanceler chinês e seus colegas no Senegal. O encontro foi precedido por Livro Branco de Pequim, "Uma Parceria de Iguais"; ganhou manchete em jornais ligados ao PC, como Global Times, e muita cobertura da agência Xinhua.
Além de Xi, entre outros, falou o presidente do Congo, Felix Tshisekedi. Descreveu a parceria como "exemplar", com projetos que, em duas décadas, "impulsionaram o desenvolvimento econômico e social do continente africano". Em suma, "africanos e chineses estão hoje lado a lado como velhos amigos".
Tanta atenção se deve ao cobalto, minério chave para carros elétricos, e à pressão americana para que Tshisekedi derrube as concessões de exploração feitas à China. Uma pressão que cresceu às vésperas do evento, em séries no NYT e na também americana Bloomberg.
No dia da abertura do fórum, entrou mais um texto no NYT, com o título carregado "Caça ao 'Blood Diamond' [Diamante de Sangue] das baterias [de carros] impede o impulso da energia verde", centrando fogo no presidente da estatal congolesa de mineração.
Um dia antes, a Bloomberg despachou "Dinheiro da China fluiu através de banco do Congo para amigos de ex-presidente", com dados bancários fornecidos por uma organização "anticorrupção" de Washington, contra o antecessor de Tshisekedi.
Não é só em relação ao Congo. A mesma Bloomberg noticiou, ecoando um jornal de Uganda, Monitor, que o país teria perdido ou estaria para perder o seu único aeroporto internacional para a China, devido a um empréstimo não quitado.
"Estava errado, e o timing da desinformação é certamente interessante", diz Bill Bishop na newsletter Sinocism, de Washington.
'AFROFOBIA'
Washington Post e alguns outros veículos americanos destacaram que o presidente de Malawi, um dos países africanos recém-banidos por EUA e Europa, tachou a decisão de "afrofobia".
'YOUR AÇAÍ'
Na capa do mesmo WPost, acima, com enunciado endereçado aos próprios consumidores americanos, "Crianças sobem em árvores de 18 metros para colher seu açaí".
O correspondente Terrence McCoy foi a Curralinho, no Pará, e ouve trabalhadores infantis como José, 11, sublinhando que muitos deles acabam morrendo, em quedas na floresta.
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