Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

Nos EUA, quem não quer guerra é Tucker Carlson, da Fox News

'A guerra mais longa na história americana acabou, e o novo consenso em Washington é: precisamos de outra guerra já'

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O presidente ucraniano, em conversa na quinta (27), falou para o colega americano "acalmar as mensagens" de guerra iminente. Foi o que seu governo vazou. Mas o governo americano negou, declarando que estavam "vazando mentiras".

O presidente ucraniano chamou então uma coletiva na sexta e falou coisas como "eu entendo o que acontece no meu país, assim como ele [Joe Biden] entende o que acontece no dele".

Reclamou que "os tambores de guerra podem contribuir para a instabilidade interna", que a evacuação na embaixada americana "foi um erro" e que seu país "não é o Titanic". Em suma, cobrou de Biden "muito cuidado com o modo como se fala a cada dia, a cada minuto, quando se fala que a guerra vai acontecer amanhã".

Tucker Carlson, na segunda, 24 de janeiro de 2022, questionou o impacto econômico de uma guerra contra a Rússia - Reprodução

A cobertura americana, em sua maioria, bate tambor há meses. Uma exceção é Tucker Carlson, da Fox News, que acaba de ser apontado "o mais influente no jornalismo" americano em 2021 pelo site Mediaite. "É quase impossível escapar" de Carlson, justificou.

Ele dominou a semana em ataques aos "neocons", neoconservadores que "traem os interesses do país" ao "pressionar pela guerra". Uma guerra que, argumenta, "não fará a América mais segura nem mais forte ou mais próspera".

Então por quê? "Arrogância, estupidez, a composição psicológica danificada dos nossos líderes, as campanhas maciças de lobby dos empresários de defesa americanos. Todos esses fatores desempenham um papel nisso. Nenhuma tragédia tem causa única."

Denunciou uma campanha em favor da intervenção, em alguns casos até nuclear, da rede CBS ao site Politico. "A guerra mais longa na história americana acabou quando nós deixamos o Afeganistão, e o novo consenso em Washington é: precisamos de outra guerra já."

Antes, já ao longo de novembro e dezembro, Carlson defendia o presidente russo. "Hoje a Otan existe para atormentar Vladimir Putin, que não tem intenção de invadir a Europa Ocidental. Ele quer manter suas fronteiras ocidentais seguras. É por isso que não quer que a Ucrânia se junte à Otan, e isso faz sentido."

"Por que ficarmos do lado da Ucrânia e não da Rússia?", provocou noutro dia. "É uma pergunta sincera. Olhando da perspectiva da América, por quê? Quem tem as reservas de energia? Quem é o grande ator nas questões mundiais?"

O jornalista, que foi próximo do presidente Donald Trump, fechou a semana numa extensa reportagem do Axios. O site listou republicanos em campanhas de 22 Estados relatando que as suas bases não querem mais que os EUA direcionem soldados ou recursos para a Ucrânia.

No título, "Republicanos alimentados por Tucker Carlson abandonam a postura dura com a Rússia". Ele "teve um efeito profundo" sobre essa questão e agora "até campanhas democratas têm recebido ligações" de eleitores cobrando o apoio a Putin, caso de New Jersey.

Questionado aos montes, na imprensa, Carlson respondeu ao Axios: "Não me importo nem um pouco se me chamam de peão de Putin. Tudo o que me importa é a sorte dos Estados Unidos, porque tenho quatro filhos aqui. Eu realmente espero que os eleitores sejam implacáveis".

As eleições americanas deste ano, para o Congresso, decidem se Biden perde as maiorias democratas na Câmara e no Senado. Também devem definir se o Partido Republicano, cujos eleitores são agora majoritariamente contra intervenções em outros países, segundo duas pesquisas recentes, Momentive e YouGov, abandona o apoio à guerra.

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