Muito antes de "fact-checking" se tornar uma estratégia de imagem do Facebook, já existia o Snopes, site criado nos primórdios da internet para derrubar lendas urbanas.
Duas semanas atrás, o Snopes resolveu questionar o "Fantasma de Kiev", a história de um aviador ucraniano que se espalhava em mídia social por vídeo, com centenas de milhões de visualizações no próprio Facebook, no YouTube, no Twitter e até no TikTok.
Mostrou que o vídeo era tirado de um game de simulação de combate. Mas as cenas continuaram viralizando, indo parar numa postagem do próprio governo ucraniano, oficial, no Twitter, e então aconteceu o mais revelador.
O Twitter se recusou a derrubá-las ou sequer acrescentar um alerta à publicação governamental.
Alex Stamos, que foi diretor no Facebook e hoje é acadêmico em Stanford, procurado pelo New York Times, disse que as empresas de mídia social "tomaram partido", simplesmente. Citando outros exemplos, o jornal alertou então, de maneira geral:
"Isso deixa bastante evasiva a verdade por trás de algumas narrativas de guerra, mesmo que as contas oficiais e os meios de comunicação compartilhem."
Em alguns casos, como as "dezenas de vídeos" de soldados russos capturados, eles "levantam perguntas sobre se a Ucrânia está violando as convenções de Genebra", com sustentação pelas plataformas, mundo afora.
O extenso relato explica a cautela recente do próprio NYT com notícias e declarações saídas de Kiev, como o incêndio num prédio próximo à usina nuclear. Mas é o engajamento das plataformas que chama a atenção, pelo que projeta —e não só para guerras.
Até chegar à censura do Facebook pelo governo russo na sexta (4), a escalada de censura de veículos russos pelo Facebook incluiu outros movimentos, como a liberação do neonazista batalhão Azov, que a própria plataforma havia banido, em sua lista tornada pública.
Começando por Alphabet e Apple, cada uma das gigantes americanas fez a sua parte no esforço de guerra. Agora, como publicou o Protocol, site de tecnologia do Politico, estão a um passo de derrubar um problema que enfrentavam com o governo americano:
"A guerra mudou o cálculo político em torno das ações antitruste. Big Tech e seus lobistas pressionavam contra, alegando que os Estados Unidos precisam de grandes e poderosas empresas de tecnologia para defender a segurança nacional."
Agora, mostraram que se dispõem a fazê-lo, quando convocadas. E os dois projetos de lei, mais as esperadas intervenções da agência de telecomunicações, vão deixando de "ocupar o topo das agendas em Washington". Não que as ameaças antitruste jamais tenham sido levadas a sério.
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