Duas semanas de guerra e a Rússia ainda não está isolada, como reconhecem os principais jornais americanos. Agora foi o Washington Post, "Fora do Ocidente, Putin está menos isolado do que você imagina".
Europeus como Le Monde ressaltam que a "putinofilia" na África, por exemplo, "é antes de tudo rejeição ao Ocidente".
E um relatório do Crisis Group, centro de estudos de Bruxelas, lista alguns dos maiores focos de resistência a esse Ocidente que se volta contra a Rússia: China, Índia, Paquistão, Arábia Saudita, Emirados, Irã, Israel, Turquia, Quênia, África do Sul, Brasil e México. Poderia acrescentar Sudeste Asiático e muitos outros países na África e na América Latina.
Ao fundo desse não alinhamento, além da recente pujança econômica "do resto", acontece o definhamento da democracia liberal. É o que aponta outro relatório europeu, do instituto sueco V-Dem.
O estudo estava sendo finalizado quando estourou a guerra. Lembrou então os avisos, "por anos, de que a onda global de autocratização levaria a guerras". Ele avalia dados para 202 países, em uma base que começa por 1789, ano que abriu a Revolução Francesa.
Em 2021, foco do relatório, "o nível de democracia desfrutado pelo cidadão global médio caiu para os níveis de 1989", ou seja, "os últimos 30 anos de avanços democráticos estão agora erradicados".
O Brasil de Jair Bolsonaro, embora ainda uma "democracia eleitoral" na classificação, encabeça o "top 10" de países mais autocratizantes, que inclui outros grandes emergentes como Turquia e Índia, ambos já "autocracias eleitorais" (imagem acima).
O Ocidente não está imune. Também nos dez países que mais caminharam para longe da democracia, aparece a Polônia —a ponta de lança nos esforços norte-americanos e europeus contra a Rússia.
"Seis dos 27 membros da União Europeia estão agora se autocratizando", sublinha o estudo, falando em "onda". Nem os Estados Unidos escapam, também classificados como autocratizantes no ano.
Uma marca de 2021 foi a "epidemia de golpes de estado", cinco deles militares e um autogolpe, "um recorde para o século 21", que até então contava 1,2 por ano, em média.
Também "um recorde de 35 países sofreram deterioração significativa na liberdade de expressão", segundo o V-Dem.
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