Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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De jornais a príncipe saudita, cresce resistência ao 'Cidadão Musk'

Ele 'ignora que empresas privadas são livres para estabelecer limites nas suas plataformas', publica WPost de Jeff Bezos

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Em menos de dois dias, na manchete do Wall Street Journal, "Twitter age para bloquer" a compra da plataforma social por Elon Musk.

No título tortuoso do anúncio oficial, "Twitter adota plano de direitos de acionistas de duração limitada, permitindo que todos os acionistas percebam o valor total da empresa".

Os antagonistas do dono da Tesla e da SpaceX mostraram as suas armas, publicamente, até demais.

No Washington Post de Jeff Bezos, começou antes até da proposta de compra. Ellen Pao, ex-CEO do Reddit, escreveu o artigo "A visão de ‘liberdade de expressão’ de Musk será ruim para o Twitter". Um trecho chamou a atenção do empresário, que reagiu com risadas virtuais:

"Musk se autodenomina um ‘absolutista da liberdade de expressão’, mas, como muitos dos defensores da ‘liberdade de expressão’, ele deliberadamente ignora que as empresas privadas são livres para estabelecer limites nas suas plataformas."

Mais do que crítica a Musk, era uma defesa de Bezos. Com a proposta formalizada, um colunista foi a campo no WPost e na rede, dizendo que "Musk é a última pessoa que pode assumir o Twitter":

"Eu estou assustado com o impacto na sociedade e na política, se comprar. Ele parece acreditar que vale tudo. Para a democracia sobreviver, precisamos de mais moderação de conteúdo, não menos."

Em seguida veio um príncipe saudita, se declarando "um dos maiores e mais antigos acionistas do Twitter" e rejeitando a oferta de compra, porque não refletiria "o valor intrínseco do Twitter".

Novamente, Musk reagiu com ironia, remetendo agora ao assassinato de Jamal Khashoggi, colunista do WPost: "Qual é a visão do reino [saudita] sobre a liberdade de expressão jornalística?".

Ilustração do NYT comparando Elon Musk ao 'Cidadão Kane' do filme de Orson Welles
Ilustração do NYT comparando Elon Musk ao 'Cidadão Kane' do filme de Orson Welles, de 1941 - Reprodução

Também o New York Times de A.G. Sulzberger foi a campo —desta vez sem resposta do empresário. O jornal chamou no alto da home para a análise crítica "Elon Musk é um Cidadão Kane digital".

O texto diz que a compra do WPost por Bezos "chega perto", mas vê "comparação mais próxima com barões como Hearst e o fictício Kane, que usaram seus jornais para agendas pessoais e sensacionalizar eventos mundiais".

E lança a "pergunta intrigante" que, de fato, está por trás da disputa política no episódio: "Musk restauraria a conta de Donald Trump?".

O bloqueio do negócio pelo comando atual da plataforma adiou uma resposta, mas o próprio ex-presidente americano foi questionado se voltaria, num programa da rede de rádio por satélite Sirius XM, e respondeu que "provavelmente não":

"O Twitter ficou chato. Eles se livraram de muitas de suas vozes boas, suas vozes conservadoras. Costumava ser uma guerra interessante, mentalmente, tivemos algumas lutas muito boas. Íamos atrás dos progressistas, dávamos e recebíamos golpes e eram coisas ótimas. Agora não é o mesmo. É um lugar muito chato."

Capas da revista em setembro de 1974 e agosto de 2011 - Reprodução

A MORTE CULTURAL DE LONDRES

Dez anos depois de se tornar gratuita, a Time Out desistiu de vez das bancas e, no destaque da New Statesman, "O fim da revista é um presságio da morte cultural de Londres". Em suma, diz, "a vida noturna que a Time Out ajudou a definir foi saqueada por incorporadores imobiliários e pandemia".

PAYWALL, AFINAL

Uma década depois de NYT e outros jornais pelo mundo, o londrino The Guardian não resiste mais e começa a implantar até o fim do mês o acesso pago ao seu aplicativo. Com "paywall poroso", segundo o Financial Times, e ainda mantendo acesso gratuito ao antigo site.

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