Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

EUA comandam o desmonte da projeção épica de Zelenski

Diante da 'desconfiança profunda' de Joe Biden, líder ucraniano pede para 'falar diretamente com Xi Jinping'

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O ponto de mudança na cobertura ocidental de Volodimir Zelenski poderia ser localizado uma semana atrás, com as fotografias do líder ucraniano e de sua mulher para a revista Vogue, tiradas pela célebre Annie Leibovitz, com resultado grotesco.

"É tudo muito ofensivo, para os ucranianos que morreram e para o contribuinte americano que está pagando por tudo isso", voltou à carga o apresentador Tucker Carlson, na Fox News. "Por que nós ainda estamos financiando isso?"

Zelenski durante entrevista ao South China Morning Post, veiculada em 4 de agosto de 2022 - Reprodução

Mas uma outra publicação americana, logo em seguida, parece ter peso maior para a virada. Thomas Friedman, colunista de política externa do New York Times com acesso a Joe Biden, divulgou que a Casa Branca não confia em Zelenski, uma "desconfiança profunda", e avisou que vai voltar ao assunto no jornal.

O texto causou espanto em Washington, de outros colunistas à conservadora National Review, esta apontando que o governo democrata, com o vazamento, busca expor a corrupção de Zelenski para forçá-lo a aceitar um acordo de paz ou, do contrário, culpá-lo pela derrota.

Ato contínuo, a Anistia Internacional soltou o relatório "Táticas de combate ucranianas colocam civis em perigo", mostrando o "padrão" adotado pelo governo de instalar "bases militares em áreas residenciais, inclusive escolas e hospitais", e depois realizar "ataques lançados de áreas civis povoadas".

Ou seja, escudos humanos. O líder ucraniano reagiu por Telegram e outras redes sociais, acusando a organização britânica de "justificar" a invasão e dizendo que "não se pode tolerar um relatório em que a vítima e o agressor são a mesma coisa".

No mesmo vídeo, disparou contra "alguns líderes da União Europeia" pelos US$ 8 bilhões prometidos e "no momento suspensos", no que qualifica como "um crime". Sua crítica vem após reportagens contra ele também na imprensa europeia.

O Die Welt, de Berlim, por exemplo, destacou no meio desta semana os "Acordos do presidente Zelenski", com "revelações sobre contas offshore", citando um documentário sobre o bilionário Ihor Kolomoisky e seus vínculos com o líder ucraniano.

Antes, como manchetou o Financial Times, "Países da União Europeia soam alarme sobre contrabando de armas na Ucrânia". Armas que eles mesmos forneceram e que, segundo a Europol, a polícia europeia, "começaram a abastecer o crime organizado", de volta ao bloco.

Agora o Washington Post reporta longamente sobre as "rachaduras" que apareceram entre Zelenski e líderes regionais ucranianos, que tentam obter acesso direto aos "bilhões de dólares em ajuda internacional derramados" no país e são impedidos por ele, até mesmo de viajar ao exterior.

Acumulam-se coisas assim, como a entrega de um "vasto grupo de mídia pelo homem mais rico da Ucrânia" depois da aprovação de uma lei por Zelenski, que foi noticiada pela Reuters, ou como as trocas seguidas de autoridades do governo.

Como ironizou Thomas Friedman, é todo um "negócio engraçado", de "corrupção e maluquices sob as aparências, em Kiev". Destacou a demissão até agora não explicada do ministro da justiça e do chefe da inteligência interna.

Cercado no Ocidente, Zelenski deu uma entrevista nesta quinta (4) para o South China Morning Post, em que disse compreender a postura "equilibrada" da China diante da guerra —e acrescentou, para a manchete do jornal: "Eu gostaria de falar diretamente com Xi Jinping".

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