Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

'Aliados' descobrem o preço do protecionismo americano

Taiwan, França e Alemanha veem suas fábricas se transferirem para os EUA, atrás dos subsídios de Joe Biden

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O Dianzi Shibao (DigiTimes), conhecida publicação taiwanesa sobre tecnologia, informa que Joe Biden e Tim Cook, CEO da Apple, visitam o Arizona na próxima terça para a inauguração formal da fábrica americana da gigante de chips de Taiwan, TSMC.

O fundador da TSMC, Zhang Zhongmou (Morris Chang), resistiu à pressão dos EUA pela fábrica desde o início do ano, inclusive com dados sobre a produtividade inviável no país, 50% inferior. Mas os bilhões de subsídio de Washington falaram mais alto. E a nova fábrica, no fim, vai tentar transplantar a produtividade de Taiwan.

Foi o que revelou há duas semanas a revista taiwanesa Shangye Zhoukan (Business Weekly, acima), com o embarque de 300 pessoas ligadas à TSMC em voo fretado, para morar nos EUA, a tempo de se apresentarem para as fotos com Biden e Cook.

Está ficando caro, para o governo de Taiwan. Nas eleições locais, logo em seguida, o partido governista foi derrotado pelo opositor Kuomintang na capital e na cidade da própria TSMC.

Segundo o jornal Zhongguo Shibao (China Times), de Taipé, as imagens dos engenheiros sendo "enviados continuamente", com suas famílias, "fizeram os taiwaneses sentirem que Taiwan estava se esvaziando, e os eleitores expressaram sua insatisfação".

Outro motivo seria o temor de guerra como na Ucrânia, sobretudo depois da visita da presidente da Câmara dos EUA e do cerco à ilha pelos militares chineses. Mas o esvaziamento da TSMC é mais persistente, na repercussão.

Zhang, o fundador, já aceitou uma segunda fábrica no Arizona e, sob pressão da Apple, segundo a Bloomberg, vai produzir chips de tecnologia mais avançada, que ele queria restringir a Taiwan. Pior, 70% da TSMC está agora sob controle de capital externo.

Mais especificamente, segundo o Financial Times, entraram na composição da gigante, após sua aceitação da produção nos EUA, Warren Buffett, George Soros e os fundos Tiger Global e Bridgewater. A TSMC, critica o Zhongguo, está virando USMC —de "United States".

O protecionismo industrial de Biden, que rendeu capa crítica da inglesa The Economist (acima), atinge outros "aliados". Os subsídios à fabricação de carros elétricos nos EUA estão levando Alemanha e França a ameaçar com "guerra comercial".

Na quinta, o presidente americano estendeu tapete vermelho na Casa Branca para o francês Emmanuel Macron —que tentou resistir aos afagos, repisando que os subsídios começam a desindustrializar a Europa e "vão dividir o Ocidente".

O financeiro alemão Handelsblatt destacou na sexta que "não há quase nada de substancial para reportar da reunião entre os dois, só mais banalidades", sem concessões efetivas de Biden. Ele que até falou, como ressaltou o alemão Die Welt no título entre aspas:

"Os Estados Unidos não pedem desculpas. E eu também não."

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