Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nelson de Sá

Jornalismo vai renunciando à 'objetividade' nos EUA

Estudo de ex-editor do caso Watergate propõe 'um novo conjunto de padrões' para resgatar credibilidade das notícias

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Leonard Downie Jr. foi um dos editores da cobertura de Watergate pelo Washington Post nos anos 1970, modelo para o jornalismo nas décadas seguintes. Posteriormente, substituiu o próprio Ben Bradlee como editor-executivo, cargo que ocupou por 17 anos, até 2008.

Hoje professor da Escola de Jornalismo Walter Cronkite, na Universidade do Arizona, ele acaba de completar um relatório, junto com um ex-diretor de Jornalismo da CBS News, em que marca o fim do ideal de objetividade na imprensa americana.

Em suma, escreve na introdução: "Ser 'objetivo' ainda deve continuar sendo uma meta? Se não, como foi nossa conclusão, como criar um novo conjunto de padrões para notícias com credibilidade?".

Capa do estudo 'Além da Objetividade' - Reprodução

Lista diversos motivos para o ocaso da busca por objetividade, do êxito do modelo de negócios da Fox News aos jovens ativistas que tomaram as grandes redações. E afirma que abandonar essa meta ajuda a recuperar a confiança no jornalismo.

A reação de colegas como James Fallows, outro veterano da grande imprensa, é de apoio, mas não sem ironia: "Esse é um passo significativo e bem-vindo de Downie. Nos anos 1990, o argumento dele era que os repórteres nem deviam votar, porque comprometia sua objetividade".

O relatório ouve mais de 70 jornalistas, inclusive os principais editores, como Kevin Merida, do Los Angeles Times, que quer soltar as amarras: "Estamos tentando criar um ambiente em que não policiemos demais nossos jornalistas. Nossos jovens querem ser participantes no mundo".

Downie não chega a propor padrões "novos", defendendo, por exemplo, transparência e foco em reportagem. Lança bordões como "esforce-se não só pela precisão, mas pela verdade", uma forma de combater o "equilíbrio irracional" entre os dois lados —ainda que se trate apenas da "melhor versão disponível da verdade".

Questionado sobre o estudo, Carlos Eduardo Lins da Silva, professor do Insper e ex-correspondente em Washington, diz ver um "descenso do jornalismo nos EUA" e projeta sua volta ao passado, ao século 19, quando era atividade de "intelectuais, políticos e ativistas de causas sociais".

Ressalva que não seria um retorno "necessariamente ao alinhamento a partidos políticos, estes também em baixa na sociedade, mas alinhamento a causas, um jornalismo 'partisan' mais que partidário".

Sobre as conclusões de Downie, avalia que, "com as mudanças em curso, tem início o processo de construção de novas argumentações para um discurso que justifique a alteração de procedimentos hegemônicos há um século".

Diferente dele, não acredita ser uma tendência "necessariamente boa nem para a sociedade nem para a democracia", porque "o ambiente social decorrente dessa transformação será muito diferente do que existia naqueles tempos, provavelmente mais arriscado e menos democrático".

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.