Nizan Guanaes

​Empreendedor, criador da N Ideias​.

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WhatsApp poderá ser a mãe de todas as 'fake news' nas eleições

App é uma forma barata e direta de falar com os eleitores e de espalhar mentiras e ódios

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Montagem com três fotos. Uma mostra um homem segurando adesivos escrito "intervenção já". Na outra imagem, um caminhão com um pano verde e amarelo. Na terceira, uma montagem sobre uma foto de um caminhão com os escritos "Não é só pelo preço dos combustíveis é por intervenção militar"
Reprodução de grupo de WhatsApp de caminhoneiros - Reprodução/BBC Brasil

A greve dos caminhoneiros é o tipo de evento que permite muitas leituras. Ao bloquear estradas, ela abriu caminhos para práticas e ideias com as quais podemos democraticamente concordar ou discordar. O que não podemos é minimizar seus efeitos e seus sinais às vésperas de uma eleição que deve determinar o destino do país.

Vou deixar aspectos econômicos e políticos para políticos e economistas. Meu foco é a comunicação.
Já sabemos do potencial mobilizador das redes sociais. Começando com as inocentes “flash mobs”, que reuniam jovens em pontos aleatórios da cidade para fazer algo extravagante, as redes, com seu crescimento exponencial, passaram a mobilizar massas muito maiores para fins muito mais sérios.

A Primavera Árabe mostrou ao mundo como as redes sociais são ferramentas políticas de altíssimo impacto, com capacidade de mobilização inédita, imediata e aguda.

A eleição de Trump e seu uso do Twitter para fazer política local e global 24 horas por dia é outro degrau da evolução das redes —não mais como mídia alternativa, mas como mídia “mainstream”.

No Brasil, o meio de comunicação que mais mobilizou os grevistas foi o WhatsApp. Que, ao contrário de Facebook, Twitter e Instagram, é uma plataforma fechada, limitada a 256 pessoas por grupo. Mas com capacidade de comunicação arrebatadora. Foi basicamente pelo WhatsApp que os caminhoneiros se organizaram neste imenso país.

Nas eleições de outubro, o aplicativo terá papel fundamental nas campanhas. É uma forma barata e direta de falar com os eleitores. E uma forma barata e direta de espalhar mentiras e ódios. Com sua baixa rastreabilidade, ele pode ser a mãe de todas as “fake news”.

No WhatsApp, o emissor primário da mensagem pode estar fora do país, permanecer anônimo e ter todas as suas mensagens encriptadas, impedindo autoridades e mesmo o WhatsApp de saber o que é transmitido e por quem.

O WhatsApp tem hoje mais de 1,5 bilhão de usuários no mundo, que enviam mais de 60 bilhões de mensagens ao dia. Ele foi criado por dois ex-funcionários do Yahoo! para oferecer uma forma de comunicação simples e efetiva a usuários do iPhone. O Facebook pagou US$ 19 bilhões pelo WhatsApp em 2014, quando o aplicativo tinha 450 milhões de usuários e não gerava receita. Mas Mark Zuckerberg compreendeu seu poder.

E, embora Zuckerberg esteja sendo questionado no mundo todo sobre os modos de usar o Face e o Instagram, pouco se tem falado do uso criminoso, não há outra palavra, do WhatsApp para espalhar desinformação e ódios.

Na Índia, gigante emergente e democrático como nós, o WhatsApp já é tratado como a principal arma de mobilização política e teve papel central nas recentes eleições regionais. O serviço tem mais de 250 milhões de usuários no país, e não faltaram registros de falsas mensagens pregando o ódio entre hindus e muçulmanos para favorecer políticos específicos. Há registros positivos também de candidatos fora dos partidos tradicionais, relegados pela imprensa, que puderam por meio do aplicativo se comunicar com eleitores de forma direta e abrangente.

Estamos ainda no primeiro estágio de desenvolvimento dessas formidáveis tecnologias. E, como sempre, usos (e abusos) aparecem bem antes de uma regulação equilibrada e efetiva. Assim caminha a humanidade, e tenho fé em que chegaremos a uma boa fórmula para coibir os abusos e proteger os usos. Mas, antes disso, temos uma eleição. E, ao contrário do que muitos pensam, o horário eleitoral já começou. 

WhatsApp poderá ser a mãe de todas as 'fake news' nas eleições - Dado Ruvic - 28.mar.2018/Reuters

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