Só quem escreve há mais de uma década na Folha sabe o impacto que ela tem no Brasil. Você está correndo numa praia, e o cara grita “adoro seus artigos!” Você dá uma bola fora e um leitor lá do norte do norte do país reclama no Painel do Leitor.
Sabe o que é o seu ídolo Fernanda Torres lhe mandar no WhatsApp: “textão ontem!!!”? Ou a minha amiga Paula Lavigne falar “Caetano gostou do seu artigo sobre a propaganda brasileira”? Em compensação, quando você dá uma bola fora, é vaia geral.
Acertando e errando, a Folha faz parte da minha vida. E, cuidando de sua comunicação por uns 20 anos, eu fiz também parte da vida da Folha, agora centenária.
A Folha sempre gostou de propaganda. E, como Steve Jobs, seus líderes sabiam muito bem o que queriam e o que não queriam dela. Para eles eu criei o comercial do “Hitler”, na W/GGK, que está na lista global dos 100 melhores comerciais do século 20.
Agradeço à Folha por ter podido criar para ela peças publicitárias importantes e pelos mais de dez anos desta coluna, pela qual ela me possibilita ser ouvido e, mais que isso, ouvir o Brasil e ter um dedo no seu pulso.
Isso tudo, claro, não impediu a Folha de me dar porrada também. Do seu jeito irredutível, a Folha é amiga de todos porque não é amiga de ninguém.
Há alguns anos, a Folha me chamou para ser ombudsman por um dia. Pisei com muito cuidado neste solo sagrado do jornalismo com um artigo intitulado “Surpresa”. Nele, sugeria que o jornal diversificasse a pauta tradicional do hard news trazendo temas mais próximos da vida das pessoas. Vendo o Facebook, o Twitter e o Instagram, escrevi, ficava claro que as pessoas do século 21 não queriam só conversar sobre política e economia, economia e política.
A Folha arejou a pauta. Trouxe novas vozes, novos olhares, novos temas, explorando as possibilidades que as novas tecnologias e a centralidade do conteúdo de qualidade oferecem hoje. Mas, surpresa, eis que a pauta dura da política voltou com tudo, puxada agora pelas próprias redes sociais.
A Folha sabe ser dura e, na política, joga em casa. Daí seu crescimento exponencial montado no novo modelo de negócios, que já foi o velho modelo de negócios: ganhar dinheiro com a venda de assinaturas de seu conteúdo. E isso é muito moderno, como a Folha. Nunca se consumiu tanta informação, e quem vende informação de qualidade tem um produto vencedor. É só empacotar e distribuir bem.
Como brasileiro, agradeço o que este jornal faz pelo Brasil. A quantidade de inteligências que a Folha reúne e nutre. E faço votos para que ela nunca se afaste de Otavio Frias Filho (1957-2018). Ele vivia dizendo que a Folha não tinha amigos. Mas a recíproca para mim não era verdadeira, Otavio. Sofri com a sua morte e fico feliz em lhe ver vivo na inquietude da sua Folha, na inquietude empreendedora do seu irmão Luiz.
Que nos próximos 100 anos a Folha se dedique ao futuro com o destemor do lindo livro de Otavio: “Queda Livre”.
E que continue cuidando do único amigo que ela tem e cuida: o Brasil.
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