Nosso estranho amor

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Descrição de chapéu Natal

Papai Noel e sua ex-mulher

No ano em que Cleber conquistou sua barba de bom velhinho, seu casamento acabou

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Elidnéia Carmo Flor é ex-mulher de Papai Noel. Note que ela não é ex-esposa de Papai Noel, porque não existe ex-esposa do bom velhinho, esse posto é ocupado desde que o tempo é tempo pela Mamãe Noel. Elidnéia foi casada por 16 anos com Cleber Amaral Forte, 40, até meados de 2017, o ano em que ele começou a dar expediente como o personagem natalino.

Cleber é Papai Noel profissional há cinco anos. Tudo começou com uma vontade de ajudar. Primeiro, ele foi voluntário em um evento beneficente, com barba falsa. Mas, logo no ano de estreia, uma criança puxou os fios de náilon e disse, boquiaberta: "Não é de verdade!". A desilusão da criança alugou um apartamento na sua mente, e Cleber decidiu que no ano seguinte faria uma caracterização de respeito.

Enfeites de Natal com o personagem do Papai Noel - Michaela Rehle/Reuters

Como até então ele só trabalhava como barbeiro, decidiu investir na personalidade capilar do homem do Polo Norte. "Sou gordinho, baixinho, extrovertido e adoro criança. Só faltava a barba. E de barba eu entendo." No meio de 2018, não faltava mais. A partir de janeiro, Cleber deixa a sobrancelha crescer ao ponto de ficar desgrenhada. Quando já está com a barba na altura do peito e cabelo para ser medido com palmos, é hora de desaparecer. "Até agosto, eu sou o Cleber. O Cleber é barbeiro, é forte. A partir daí, eu me transformo. Não posto mais nada em rede social, sumo dos grupos. Eu mudo da água para o vinho." E o processo de transformação passa por uma grossa camada de água oxigenada de 30 volumes, que ele aplica sobre os pelos e deixa a química agir. O produto rouba toda a cor dos fios, até deixá-los brancos. Brancos e quebradiços. "Mas eu cuido todo dia, hidrato e tudo o mais." Quatro anos atrás, Cleber já havia conquistado o sonho da barba de Papai Noel própria. Mas foi no mesmo ano que seu casamento acabou. "Mudou o tipo de amor", diz ele. E ela completa: "Mas a gente sempre teve uma ligação afetiva. Ele é pai dos meus filhos. Querendo ou não, ele vai ser pai para sempre."

E vai ser Papai Noel para sempre também, por mais que seja uma vida espartana. Em 2021, Cleber sai do turno de oito horas no Shopping das Bandeiras, em Campinas, e vai direto para casa. "Se uma criança vê o Papai Noel em outro lugar, mexe com a ilusão. Eu não posso mexer com o sonho dessas crianças." Até para ir até o seu carro, no estacionamento do shopping, ele se disfarça. Cobre os cabelos com um boné e revela os braços tatuados, que ficam escondidos no figurino. "Nunca fui reconhecido."

Ela já teve outros relacionamentos desde o término e chegou a morar com um namorado. Já o Papai Noel segue solteiro. "É muito complicado. Não dá tempo. Não consigo conversar pelo celular. Novembro e dezembro é retenção total, de tudo", ele diz. E reforça, com a voz grave: "De tudo". E então explicita ainda mais o que já parecia claro: "Vamos supor que eu tô saindo com uma mulher e a gente decide ir no motel, daí a atendente chega em casa e diz para os filhos: ‘Ah, eu vi o Papai Noel no motel’. Aí não dá. Não pode."

A única pessoa que se acostumou com a vida desse workaholic natalino foi a ex-mulher. "Quando o Cleber começou, a gente começou junto. A gente sempre foi parceiro em tudo." São tão parceiros que, no momento em que Cleber dá a entrevista, os dois estão juntos, sob o mesmo teto. Elidnéia está passando uma temporada na casa em que os dois moraram juntos. Com ela, estão sua filha, de 20, e as duas crianças que teve com Cleber, uma de 14 anos, e caçula de 5, que chama o pai de "Meu Papai Noel". Cleber, enquanto isso, voltou a morar com a mãe. Até porque, em dezembro, ele faz pouca coisa em casa, além de dormir.

O único afeto com que Papai Noel conta no meio de dezembro, além dos filhos, é da sua ex-mulher. Porque ela sabe que Papai Noel é de verdade. "A gente diz que isso não existe, mas existe. No fundo, no fundo, existe. Está no fundo da gente."

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