Nosso estranho amor

Paixões, desencontros, estabilidade e loucuras segundo Anna Virginia Balloussier, Pedro Mairal, Milly Lacombe e Chico Felitti. Uma pausa nas notícias pra gente lembrar tudo aquilo que também interessa demais.

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Nosso estranho amor
Descrição de chapéu astrologia

Mônica e Marcos: amor no Paraíso

No horóscopo estava 'Esta semana é o Dia D, você vai conhecer o amor da sua vida'

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Dentro das igrejas, horóscopo é tabu. Você pode ser do signo do Pai com ascendente no Filho e lua no Espírito Santo. Mais do que isso, vira pagão.

Mas Mônica Alves, 53, era uma evangélica, "vamos colocar assim, partindo pro lado místico". Ela diz que se lembra da exata hora em que nasceu, "com todas as dores e os sons estranhos", no Hospital Matarazzo, às 21h15 de 10 de junho de 1968. "Sou uma de um milhão que se recorda."

Mônica não esquece. E foi por isso que ela saiu "arrumadinha pro serviço" no dia 27 de maio de 2007, um domingo de Pentecostes. O penteado avolumado pelos bobes que enrolou no cabelo na noite anterior, "pra ficar bonitinha". Pronta pro ataque.

Fotolia

Uma colega do trabalho, a Valdete, precisava levar o filho ao médico e queria alguém para cobrir seu plantão dominical. Mônica viu um sinal aí. Tinha lido algo interessante no início da semana, nas páginas do Metrô News, o jornalzinho distribuído de graça nas plataformas do metrô paulistano. "Me lembro como se fosse hoje. O horóscopo dizia: ‘Esta semana é o Dia D, você vai conhecer o amor da sua vida’."

Só que a semana já estava acabando, e a paciência de Mônica, idem. Nada do bonitão dar as caras. Topou substituir Valdete e foi carregar cartões do Bilhete Único na estação Paraíso. O prazo astral expirava naquele domingo. Vai que, né?

E foi. Por volta das 4h40, entrou Marcos Alfredo de Araújo, 41. Como os sobrinhos adiantaram sem querer seu relógio, ele saiu uma hora mais cedo para trabalhar. A geminiana "com ascendente em Jesus Cristo" cruzou com Marcos Alfredo, e aí já era, "os dois viram a mesma coisa, um flash nos olhos, uma luz". O amor no Paraíso.

"Nossa, que morena linda, e eu estou à procura de uma mulher como você para compromisso sério", ele galanteou e emendou uma pergunta sobre o estado civil da dama cortejada. Solteira. Atrasado para o serviço, logo no apocalíptico número 666 da rua Abílio Soares, o porteiro deixou o telefone para quem sabe "marcarem um lanche" e desapareceu pela escada rolante. Mas Mônica não é besta nem nada. Convenceu-se de que ali estava, de fato, seu príncipe encantado.

Ligou para ele três dias depois, de um orelhão em Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo onde morava. "Para selar nossa união, ele me trouxe um bombom e me deu um beijo no Paraíso. Eu flutuei."

Acontece que o posto de "noivorido" vinha com encargos, verdade que nada desafiadores para Marcos. Ele virou cobaia dos brinquedos sexuais que Mônica testava em casa antes de oferecer às clientes. Ela era, na época, revendedora de produtos eróticos que faziam sucesso entre as amigas da igreja.

Hoje os dois trabalham como corretores na Literatura Imóveis, que fundaram juntos. Mônica ri quando lembra que chegou a telefonar para o jornal do metrô, "atrás do responsável por colocar tanto amor naquele signo de gêmeos, afirmando que euzinha, no caso, iria conhecer o homem que me faria feliz a vida toda".

Encheu tanto o pobre jornalista do outro lado da linha que, a certa altura, ele lhe deu um passa-fora. "Eu estava eufórica, queria mais explicações. O moço estava de saída para o almoço e explodiu, ‘olha aqui, minha senhora, nós recortamos as frases e fazemos um sorteio, o que cair a gente posta para os signos, satisfeita?’."

Satisfeitíssima. Graças a Deus, seu "felizes para sempre" estava escrito nas estrelas.

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