Nosso estranho amor

Paixões, desencontros, estabilidade e loucuras segundo Anna Virginia Balloussier, Pedro Mairal, Milly Lacombe e Chico Felitti. Uma pausa nas notícias pra gente lembrar tudo aquilo que também interessa demais.

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Nosso estranho amor
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Paulo foi o primeiro amor de Sisa, e ela o reencontrou décadas depois

O casal tinha uma conexão especial desde o primeiro ano do ensino fundamental, em Marília (SP)

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São Paulo

Encontraram-se no primeiro ano do fundamental, numa escola estadual de Marília (SP). Paulo vinha do Paraná. Darcy, que todo mundo chamava de Sisa, da capital paulista. Tinham seis anos e eram, junto com os amigos Thelma e Guilherme, inseparáveis.

"Sabe aquele primeiro amor da vida?" Pois é. Sisa conheceu o seu no distante 1967. Os dois eram levados demais. "Montava em bezerra, roubava fruta e levava tiro de sal. Paulo era como eu."

Os amigos moravam em casas vizinhas, todas sempre com porta destrancada e bolo quentinho em cima da mesa, para a molecada se fartar. Tinha uma piscina no quintal da Sisa, raridade na época. A turma toda ia para lá depois que o clube fechava.

O casal Paulo e Sisa Mazzafera
O casal Paulo e Sisa Mazzafera - Reprodução

​Sisa e Paulo tinham uma conexão especial. Eram crianças e não precisavam rotular nada. "A gente sabia que gostava muito um do outro, mas não dava a conotação que se dá hoje. Era só uma companhia muito gostosa."

Aí, ela foi embora. Beirava os 12 anos quando os pais decidiram voltar para São Paulo, e isso nos anos 1970. A comunicação era basicamente por telefone (caro) ou cartas (melhor assim).

Antes de partir, Sisa levou um álbum para que os colegas de Marília registrassem bilhetes de despedida. "Ele foi o único menino que escreveu pra mim."

Foram estas as palavras de Paulo, numa bonita caligrafia sobre a folha de caderno com o desenho da Mônica e do Bidu, as já hiperpopulares criações de Mauricio de Sousa: "Darcy, que estas palavras traduzam um pouco da amizade que sinto por você. Um amigo é um tesouro. Quanto mais… um Amigo! Onde está teu tesouro, está teu coração".

Esse… Amigo! Sisa sentia falta dele, mas a vida tratou de se encaminhar. "A gente se comunicou por cartas depois. Mas o tempo passou, passou, passou." Tinham 15 anos quando ele ressurgiu. Paulo era nadador e foi a São Paulo competir. "Me procurou lá em casa, com intuito de me namorar. Eu estava linda namorando outro. Ele foi embora bem sentido. Nunca mais falou comigo."

Quem puxou papo de novo foi ela, em 2010. Mais de três décadas depois. Sisa mantinha contato com Guilherme e Thelma, os outros dois amigos de infância, e a antiga gangue pensou em se reunir.

Paulo, agora engenheiro agrônomo, trabalhava na Unicamp. Sisa descolou o e-mail dele. A resposta foi bem seca, conta a dentista. Ele respondeu algo na linha "não quero nada, não", como se para frear investidas da ex-crush. Estava casado.

Ela tinha ficado viúva sete anos antes. O marido só tinha 48 anos quando morreu de câncer. Foram anos difíceis. Sisa até fez planos de largar tudo e entrar no Médico Sem Fronteiras. Ao contrário de Paulo, não tinha filhos. Queria cuidar de crianças em algum outro canto do mundo.

Ela pegou birra. Viu o convite de amizade no Facebook que Paulo enviou tempos depois e fez pouco caso. "Ah, esse cara chato, grosso, não quero nem saber", bufou no dia. Mas quem ela queria enganar? "Sabe quando você olha a foto de alguém e dá um frio na barriga? Saquei de cara: ‘Meu Deus, isso não vai prestar’."

Prestou. Um dia, com o divórcio já resolvido e depois de meses de papo virtual, Paulo pintou de surpresa no consultório de Sisa, na avenida Brigadeiro Faria Lima. "Na hora em que abri a porta, quase caí para trás. Ele é clarinho, de olho azul, e ficou vermelho, vermelho."

Ficaram umas cinco horas conversando. "Quando a gente se reencontrou, parecia que eu nunca tinha ficado longe dele."

O primeiro beijo só aconteceu no segundo encontro. Foram dar uma volta no shopping Eldorado, perto de onde a dentista trabalhava. "A gente só andava. Não quis tomar café nem nada. Sabe quando seu braço encontra no braço do outro e dá arrepio? E a gente já tinha mais de 50 anos!" Saíram dali para um hotel.

Paulo colocava "Friday I'm Love", a música dos ingleses do The Cure que falava sobre estar apaixonado às sextas, quando pegava a estrada na véspera do fim de semana para encontrar a namorada em São Paulo.

Formalizaram a união após dois anos, no cartório. "Foi muito legal. Eu sou uma pisciana bem esotérica. Ele falou: ‘Vai lá nas suas astrólogas e macumbeiras ver uma data boa pra casar." Escolheu um 19 de abril.

Sabe aquele primeiro amor da vida? Sisa todo dia acorda com o seu. "Ele é mil vezes mais romântico que eu."

Certa vez, Paulo comprou vários anéis de bijuteria chinesa durante uma viagem pela costa oeste dos EUA. "O último ele me deu quando a gente estava num bangalô com lareira, vinho. O céu estava uma coisa de tantas estrelas. Ele pegou um anel de coração bem grande, cheio de brilhante e strass: ‘Toma, agora te dou o céu’. Foi a primeira vez que pediu pra casar."

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