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Leandro Beguoci é diretor editorial de Nova Escola (novaescola.org.br). Ele explica sobre o que funciona (e o que não funciona) na educação brasileira.

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O que é uma boa aula para o ministro da Educação?

Em nomeações recentes, o foco no aprendizado dos alunos foi sufocado pelo patotismo

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Nós sabemos muitas coisas sobre o atual ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez. Ele nomeou amigos e ex-alunos sem experiência administrativa para alguns dos cargos mais importantes do governo. Colocou um ex-aluno de Olavo de Carvalho, alheio ao mundo das avaliações educacionais, à frente da diretoria que faz os testes – incluindo o Enem. A exemplo de outros integrantes do governo, elegeu o marxismo cultural e a ideologia de gênero como inimigos – embora não tenha explicado claramente cada uma dessas ideias.

Porém, ainda não sabemos de algo simples: o que é uma boa aula segundo o comandante do MEC?

Quando ele avança para os temas do mundo real, Vélez Rodriguez fica nas generalidades. No seu discurso de posse, falou da valorização da educação básica e dos professores. Até aí, nada surpreendente. É uma agenda de qualquer pessoa de bom senso no país. Aliás, o MEC vem mudando a prioridade orçamentária. Desde 2015, o governo federal já vem colocando mais dinheiro na educação infantil, fundamental e média do que na superior (sempre lembrando que o ministério administra pouquíssimas escolas no país. O grosso está com Estados e municípios, que também são responsáveis pela maior parte do investimento).

Embora Vélez Rodriguez já tenha dado indicações de que vai apostar em alfabetização via método fônico (embora sem especificar qual vertente vai seguir), nada mais sabemos sobre o que ele pensa sobre as escolas.

Ele é a favor de metodologias ativas de aprendizado, na qual os alunos deixam de ser copiadores de texto da lousa?

Como o professor deve ensinar nas salas de aula de hoje em que os alunos têm acesso a uma infinidade de informações via celular?

Como as aulas de ciências podem incorporar tecnologia?

O que ele acha de esforço produtivo em matemática?

Como devem ser os novos percursos pedagógicos do ensino médio?

Qual a melhor maneira de incorporar habilidades socioemocionais aos currículos?

Por enquanto, o que temos é um enorme vazio protegido por frases genéricas e slogans oriundos da campanha presidencial de Jair Bolsonaro. É difícil fazer críticas, inclusive as construtivas, a um ministério cujo programa é desconhecido.

Porém, os sinais de alerta já estão dados, e eles vêm da própria obra de Vélez Rodriguez. O ministro é autor do livro “Violência, Narcotráfico e terrorismo na América Latina”. Na obra, ele faz um diagnóstico de alguns dos principais problemas do Brasil e da região. E o ministro Vélez está, nos seus primeiros dias de cargo, cometendo erros que o professor Vélez certamente condenaria.

O primeiro é a condescendência com o fundamentalismo religioso. Trecho da obra: “Não há dúvida de que o Fundamentalismo será uma das causas mais relevantes de conflitos contra o convívio democrático e o desenvolvimento no século 21(...) Para o fundamentalista só pode haver uma democracia válida: a da unanimidade ao redor do mesmo credo. Democracia pluralista é, portanto, uma contradição inaceitável”.

O segundo é sobre nomear amigos, e não as pessoas mais preparadas para cada posição. Diz Vélez: “O patotismo, na América Latina, sufocou o patriotismo. (...) São as várias clientelas que, no recente ciclo de abertura e de amadurecimento democrático, têm preenchido os cargos federais com amigos e apaniguados dos Presidentes, fenômeno que tem dado ensejo às várias "Repúblicas" que caracterizam a nossa história recente: "República do Maranhão", "República das Alagoas", "República do pão de queijo", "República do tucanato paulista", "República do ABC"...

O Brasil não se pode dar ao luxo de ter um Ministério da Educação sem rumo ou dedicado a animar as bases do presidente. Os tuítes de efeito vão, mas o analfabetismo funcional fica.

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