Pablo Ortellado

Professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.

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Pablo Ortellado
Descrição de chapéu Eleições 2018

Mídias sociais colaboraram para armadilha eleitoral

Facebook, Twitter, WhatsApp e Telegram têm nos deixado indignados e assustados

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A armadilha eleitoral em que nos metemos tem muitas causas, mas está sem dúvida enraizada nos usos que fazemos das novas tecnologias.

Ficamos tempo demais nas mídias sociais e, como mostrou pesquisa do Datafolha, estamos usando essas novas formas de comunicação para receber, para compartilhar e para discutir assuntos políticos. 

Essas novas tecnologias têm cumprido basicamente três funções: nos manter permanentemente indignados e assustados, nos manter engajados e nos manter alinhados.

Mídias sociais como o Facebook e o Twitter e redes de comunicação privada como o WhatsApp e o Telegram têm nos deixado indignados e assustados porque consumimos uma quantidade muito grande de informação política diariamente renovada, que não nos deixa relaxar ou pensar, colocando-nos em modo de excitação permanente. 

Essas informações e notícias estão sendo produzidas por ativistas e sites noticiosos hiperpartidários que não se dedicam apenas a opinar, interpretando os fatos, nem a apurar, desvelando fatos novos. Sua tarefa principal é adequar os fatos apurados por outros para que se ajustem aos discursos mobilizadores de emoções.

Assustados e indignados, somos levados a agir. E a principal forma de ação é também de natureza comunicacional: é o compartilhamento. Por meio dele deixamos de ser pacientes das campanhas políticas e nos tornamos agentes. 

Precisamos alertar, precisamos advertir e precisamos tomar partido, contaminando nossos contatos com toda essa excitação, num processo de contágio mútuo.

Estamos, por fim, nos tornando muito parecidos. Convocados a tomar partido, manifestamos nossa posição online, recebendo em cada ocasião, de forma quantificada, o veredito social. 

Cada vez que opinamos, que nos engajamos e tomamos partido, nosso meio social nos sanciona. E a experiência reiterada da sanção social nos empurra para as posições populares, que são as apoiadas pelos grupos politicamente organizados. As mídias sociais se transformaram, assim, em uma poderosa máquina de reforço de comportamento político.

Esses três fatores estão em interação: consumimos informações e notícias que nos assustam e nos indignam, contaminamos os demais com esses sentimentos por meio do compartilhamento e ajustamos os comportamentos uns dos outros por meio dos likes. 

Ou complementarmente: ficamos parecidos recebendo likes, nos diferenciamos com o medo das notícias políticas e difundimos tanto a nossa identidade como o nosso antagonismo por meio dos compartilhamentos. ​​

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