Pablo Ortellado

Professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.

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Pablo Ortellado

O longo junho

Protestos mostram que dinâmica de mobilização iniciada em 2013 não se esgotou

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O processo de mobilização e contramobilização retomado pelas manifestações do mês de maio mostrou que a dinâmica hiperengajada que tomou a sociedade brasileira desde junho de 2013 ainda não terminou. 

Podemos dizer, seguindo a sugestão de Bruno Cava, que vivemos um longo junho, parecido com aquele ano de 1968, que insistia em não acabar. 

Tudo mudou depois de junho. Nos 20 anos que precederam 2013, poucas vezes alguma força política conseguiu atrair 10 mil pessoas para uma manifestação. Agora, consideramos um fracasso uma manifestação que não atraia pelo menos 50 mil ou mesmo 100 mil manifestantes. 

Segundo pesquisa do Ibope, realizada em 2013, nada menos que 9% da população brasileira saiu às ruas em junho e uma pesquisa mais recente com eleitores mostrou que 30% dos paulistanos participaram de algum protesto de 2013 para cá.

Vimos as manifestações contra as remoções e a construção dos estádios da Copa em 2014, as ocupações de escolas pelos secundaristas em 2015 e 2016, as manifestações a favor e contra o impeachment, os protestos contra a reforma da Previdência durante o governo Temer, a grande mobilização em apoio à greve dos caminhoneiros em 2018, além de manifestações regulares como a marcha da maconha e a parada LGBT. 

Podemos dizer, sem medo de exagerar, que, em termos históricos e na comparação internacional, a sociedade brasileira está hipermobilizada.

Em parte —e apenas em parte— isso se deve a profundas mudanças nas dinâmicas de comunicação que empoderaram o ativismo político.

Os brasileiros com acesso regular à internet já passam mais tempo nas mídias sociais do que assistindo à TV. Com o modelo distribuído das mídias sociais, somos agora simultaneamente emissores e receptores, o que reduziu sobremaneira as barreiras de entrada para a produção de conteúdos capazes de atingir multidões.

Isso fez com que grupos políticos organizados que não tinham acesso direto ao poder editorial dos veículos de massa consigam agora influir na dieta informacional de milhões de brasileiros. 

Esses grupos produzem notícias hiperpartidárias carregadas de indignação e que são avidamente compartilhadas, inundando feeds e timelines; também controlam a máquina ativista de distribuição de curtidas que recompensam com reputação e reconhecimento as opiniões alinhadas, dizimando a independência e promovendo a polarização.

Se havia esperança de que em 2019 a situação iria arrefecer, os protestos contra e a favor do governo Bolsonaro mostraram que o longo junho está apenas entrando em nova fase.

 

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