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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Presidente da Fundação Palmares provoca movimentos negros, celebra princesa Isabel em 13 de maio e ironiza Zumbi

Sérgio Camargo publicou textos no site da fundação em que Zumbi é colocado como mito criado pela esquerda

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TributoSérgio Camargo, escolhido por Jair Bolsonaro para o cargo de presidente da Fundação Palmares, escolheu o 13 de maio para prestar homenagem à princesa Isabel e para, segundo suas palavras, “revelar a verdade” sobre Zumbi no site da instituição.

Em texto publicado no site nesta quarta-feira (13), "A Narrativa Mítica de Zumbi dos Palmares", ele é descrito como um mito fabricado por grupos de esquerda para se encaixar "na mitologia da luta de classes do negro contra o branco opressor".

Com referências bibliográficas parcas e afirmações sem fundamentação ou explicação, o texto recorre ao escritor Olavo de Carvalho para se lançar contra grupos representantes de negros, homossexuais e o que chamam de comunistas e militantes.

Em outro texto, "Zumbi e a Consciência Negra - existem de verdade?", é repetida uma teoria de tom conspiratório de que uma "política esquerdizante", na busca pela "separação social", teria transformado Zumbi em um ícone para usar "o povo negro como massa de manobra".

Cutucar A data escolhida por Camargo para publicar o material, dia em que a Lei Áurea completa 132 anos, tem objetivo de polemizar com os movimentos negros, que exaltam em contraste o 20 de novembro, data da morte de Zumbi e Dia da Consciência Negra.

Camargo já chamou Zumbi de "falso herói" em outras ocasiões e já exaltou a figura da princesa, cuja importância é relativizada por parte da significativa das lideranças negras.

A comemoração do 13 de maio é criticada por não ter implicado em libertação de fato da população negra, que não teve oportunidades de inserção social na sequência da abolição.

Além disso, ao colocar em relevo a figura da princesa, diminui a participação de outros protagonistas da luta pelo fim da escravidão.

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, chega ao Palácio do Planalto para almoço com o presidente Jair Bolsonaro
O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, chega ao Palácio do Planalto para almoço com o presidente Jair Bolsonaro - Pedro Ladeira - 6.mai.2010/Folhapress
Falso “O 13 de maio como dia da libertação é uma mentira cívica, como dizia Abdias do Nascimento, e conta com o cinismo escravocrata que é a marca da elite brasileira", afirma Douglas Belchior, historiador e membro da Uneafro Brasil.

"O movimento negro desconstrói essas ideias do dia da libertação e da princesa Isabel como libertadora e redentora. Não ignoramos o 13 de maio. Nós o reivindicamos como um dia para refletirmos sobre a mentira construída, sobre a abolição inacabada. A população negra continua estruturalmente no mesmo lugar em que estava no dia seguinte à abolição", completa.
"O governo Bolsonaro como um todo é a negação do estado enquanto estado de direito. Em cada setor do governo ele busca negar as conquistas dos movimentos por direitos sociais. É assim também na pauta racial: em vez de afirmar os direitos, querem desconstruir a elaboração feita nesses anos todos no Brasil", conclui.

Realeza Descendente da princesa, o deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP) diz que a iniciativa de Camargo é bem vinda.

"Recontam a história de maneira fantasiosa e deturpada. Zumbi dos Palmares era escravagista. Não era como explorador, grande fazendeiro. Mas que ele tinha escravos, tinha. E que tinha vida conturbada no seu contexto tribal, tinha", diz, em argumento similar ao de Camargo.

Perguntado sobre o que seria o contexto tribal, ele explica.

"Qual é a tradição tribal dos índios antes do século 20? Canibalismo, infanticídio, incesto. Tudo isso é contexto tribal. Negar isso, dizer que é bom e que a civilização ocidental é ruim ao definir o papel do pai e da mãe de maneira segmentada, é o grande combate que enfrentamos agora", completou.

Sobre a princesa, ele diz que "não há como construir que a princesa Isabel foi opressora de movimentos negros. É uma construção absurda e contrária àquilo que foi a realidade."

Com Mariana Carneiro e Guilherme Seto

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