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Empresário preso tem forte influência junto a Witzel, diz ex-dirigente do estado em depoimento

Ex-presidente da Faetec relata ter sido demitido após resistir firmar contratos sem licitação com empresa investigada

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O ex-presidente da Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica) do Rio de Janeiro, Carlos Marinho, afirmou em depoimento à Polícia Federal que o empresário Mário Peixoto, preso nesta quinta-feira (14) na Operação Favorito, tem “forte influência” sobre o governador Wilson Witzel (PSC).

Marinho foi exonerado em março do ano passado por, segundo disse à PF, tentar regularizar a contratação de empresas de terceirização de mão de obra, entre elas a Atrio Rio, da família de Peixoto.

Após sua saída, a Atrio Rio firmou dois contratos emergenciais, renovados por ao menos nove meses, que somaram mais de R$ 60 milhões.

Peixoto foi preso nesta quinta sob suspeita de pagar propina a membros afastados do Tribunal de Contas do Estado e a ex-deputados estaduais durante a gestão Cabral. A Polícia Federal, contudo, detectou que o grupo do empresário seguiu atuando na gestão Witzel, inclusive nas compras emergenciais para o combate à pandemia do novo coronavírus.

O ex-presidente da Faetec disse que o então vice-presidente da entidade, Gilson Paulino, se apresentava como sendo “afilhado” de Mário Peixoto. Ele aponta o dirigente como um dos responsáveis por defender os interesses do empresário na Faetec.

“Gilson costumava dizer que ninguém conseguiria lhe ‘tirar’ da Faetec, pois o seu padrinho seria Mário Peixoto, pessoa com forte influência junto ao governador, Wilson Witzel”, afirmou Marinho em seu depoimento segundo a transcrição da PF.

O governador é citado numa outra conversa entre dois homens apontados como funcionários de Peixoto. Eles comentam a possibilidade de reversão de uma punição a entidades ligadas ao empresário.

“Diz o Mario que foi ele que acertou junto com o governador. Mas não publicou ainda”, afirmou Luiz Martins, diretor da Instituto Data Rio.

As gravações da PF mostram também a intensa disputa por ocupação de cargos comissionados. Numa delas, Martins descreve uma reunião em que o secretário Leonardo Rodrigues é pressionado para ceder espaço na estrutura da pasta.

“Ontem deu uma merda do caralho. Uma reunião maluca que o Leo arrumou. Quando a gente foi ver o Leo estava acuado na parede e o [deputado estadual] Rodrigo Amorim e o [inaudivel] metendo a porrada”, aponta a transcrição da gravação.

É atribuída a Peixoto a nomeação de cargos-chave em outros cargos, como o Detran, Cedae, Inea (Instituto Estadual do Ambiente), Loterj, entre outros órgãos da atual administração estadual.

Mesmo sendo alvo de investigações, Peixoto conseguiu se aproximar de Witzel durante a campanha eleitoral de 2018, quando o ex-juiz era ainda um azarão.

No período eleitoral, a Atrio Rio —atualmente comandada por pessoas ligadas ao empresário— contratou Lucas Tristão, à época coordenador da campanha do governador, como advogado num processo contra o estado.

Witzel afirmava durante a campanha que era sócio de Tristão, embora a relação nunca tenha sido formalizada à OAB-ES, responsável pelo registro de escritórios de advocacia. O governador disse à Folha, inclusive, que analisou a petição assinada por seu então coordenador de campanha em favor da Atrio Rio.

“Ele me apresentou a petição para que eu analisasse e verificasse se era uma petição adequada ao direito que se pleiteava. Entendi que estava adequada e que haveria possibilidade de sucesso”, disse o governador.

A sociedade de Tristão, ex-aluno do governador, foi uma das justificativas apresentadas por Witzel para explicar como depositou R$ 215 mil de recursos próprios na campanha mesmo tendo declarado à Justiça Eleitoral não ter conta bancária —seu patrimônio era apenas uma casa de R$ 400 mil não vendida.

Ele afirmou que o dinheiro veio de luvas pelo ingresso em dois escritórios de advocacia, sendo um deles o de seu atual secretário.

O advogado de Mário Peixoto afirma que as prisões decretadas não eram necessárias.

“A prisão decretada em desfavor de Mário Peixoto e seu filho surpreende pela total ausência de necessidade efetiva de tal medida, em um momento grave de pandemia. Fatos que seriam passíveis, no máximo, de investigação policial, serviram de base para uma custódia provisória, não advinda de uma condenação criminal, eis que sequer existe denúncia formal apresentada pelo Ministério Público”, disse Alexandre Lopes.

Witzel afirmou que pediria informações à Justiça Federal sobre as investigações para que o governo pudesse analisar os contratos envolvidos.

"Determinei à CGE e à PGE que façam uma auditoria minuciosa de todos os contratos que existem no governo com essas empresas. Se forem encontradas irregularidades, os contratos serão cancelados. Caso haja participação de funcionários e servidores do governo, os mesmos serão exonerados", afirma o governador Wilson Witzel.

Com Italo Nogueira

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