O Santos demitiu nesta terça-feira (6) uma funcionária que estava no clube havia dez anos e que em 2019 prestou queixa de injúria racial e assédio sexual por parte do conselheiro Márcio Rosas. Segundo apurou o Painel, ela não foi informada dos motivos para sua demissão.
Procurada, ela não quis comentar o caso.
A demissão da funcionária que trabalhava como supervisora de marketing coincide com a troca de presidente no Santos. Em 28 de setembro, José Carlos Peres foi afastado do cargo e seu vice, Orlando Rollo, assumiu a função.
Rollo não tem um vice formal no cargo, mas anunciou que o advogado Mário Badures cumpriria a função. Badures é testemunha de defesa de Rosas no processo movido pela funcionária. Ele diz que não tem amizade com o conselheiro e que não houve pressão política que tenha motivado a demissão (veja abaixo).
Em 2019, Márcio Rosas enviou um áudio de WhatsApp a conhecidos no clube em que usava de palavreado chulo e se referia à uma mulher como "neguinha".
"Pô, tô pensando nas b******, pensar nas persiana. Quero é as b****** que têm lá. Qualquer dia eu convido ela para tomar um sorvete lá no Dante, aí ela vai ver o que é bom, lá na Epitácio Pessoa. Aí vou dar o sorvetinho para ela lamber. Tenho mó tara naquela neguinha, malandro", diz Rosas no áudio.
À época, a funcionária recebeu o áudio de amigos que a identificaram como o alvo. Ela, então, foi à polícia para denunciar Rosas por injúria racial e assédio sexual.
Em novembro de 2019, o Ministério Público de São Paulo denunciou Rosas por injúria racial. O processo tinha audiência marcada para o primeiro semestre de 2020, mas foi adiada devido à pandemia.
A promotora Maria Pia Woezl Prandini diz na denúncia que Rosas atacou a funcionária "ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, utilizando-se de entonação e palavras depreciativas referentes à sua raça e ao gênero feminino".
À época, Rosas confirmou à polícia a autoria da mensagem, mas disse que não se referia à funcionária. Ele também se disse uma vítima das brigas políticas no Santos.
Ela, então, rebateu e disse que todo o contexto do áudio e fatos que Rosas menciona nele tornam impossível que ele estivesse se referindo à outra pessoa.
O advogado Mário Badures, que Rollo anunciou como seu vice, diz que foi arrolado como testemunha por critérios técnicos da defesa de Rosas, com quem afirma não ter vínculo de amizade. Ele diz acreditar ter sido chamado como testemunha pelo histórico que tem no clube e adianta que fará um depoimento imparcial sobre os fatos que chegaram a seu conhecimento.
Diz também que a demissão da funcionária foi tomada por critério exclusivamente técnico e que, inclusive, por conhecê-la, absteve-se na votação do Conselho Gestor sobre a decisão.
O Santos afirma que a saída da funcionária fez parte de pacote de demissões motivado por um estudo administrativo feito pelo diretor da área financeira do clube, e que eles calculam que essas mudanças vão resultar em uma economia de R$ 350 mil anuais para o clube.
Em comunicado oficial, o Santos disse que "após avaliação e buscando as melhores práticas de gestão e sempre de forma transparente no período do presidente interino, Orlando Rollo, contando com a aprovação do Comitê de Gestão, deliberou o desligamento de profissionais que não se adequam ao atual modelo de gestão e organograma aprovados pelo CG."
"O Santos FC deseja aos profissionais sucesso na sequência de suas carreiras e desafios e agradece pelo período em que estiveram desenvolvendo suas atividades profissionais no Clube", disse o clube.
Com Alex Sabino
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