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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Beatriz Bracher escreve carta a deputados pedindo cassação de Cury por apalpar Isa Penna

Escritora diz que eles têm oportunidade única de se colocarem contra os importunadores de mulheres

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A escritora Beatriz Bracher escreveu uma carta aos deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo pedindo que votem pela cassação do deputado Fernando Cury (Cidadania), que apalpou a também parlamentar Isa Penna (PSOL) no plenário da Casa.

Beatriz Bracher é filha do banqueiro Fernão Bracher (1935-2019), fundador do BBA (posteriormente incorporado pelo Itaú), e irmã de Candido Bracher, que deixou a presidência do Itaú Unibanco em fevereiro.

O Conselho de Ética da Alesp determinou 119 dias de suspensão sem remuneração a Cury, decisão mais branda que a proposta pelo relator, Emídio de Souza (PT), de suspensão por seis meses.

A escritora Beatriz Bracher durante café da manhã em São Paulo
A escritora Beatriz Bracher durante café da manhã em São Paulo - Silvia Zamboni-28.out.2016/Valor

Agora o caso será levado à votação no plenário, já que o regimento determina que o afastamento de um deputado deve ter o aval de maioria simples em votação aberta.

Penna pretende buscar no plenário uma punição maior a Cury, inclusive a cassação, por meio de pressão popular. O novo presidente da Alesp, Carlão Pignatari (PSDB), disse à Folha que acredita não ser possível a cassação por meio da votação no plenário, que só poderia referendar ou não a decisão do Conselho de Ética.

"Deputados da Alesp, os senhores tem uma oportunidade única nesse momento. Cassar o deputado da Alesp, Fernando Cury, é uma mensagem clara e inequívoca às eleitoras paulistas: nós, deputados da Alesp, estamos do seu lado e contra os importunadores de mulheres. Punir o deputado Fernando Cury com a suspensão de seu mandato por 119 dias é uma mensagem ainda mais clara: eleitoras paulistas, nós, deputados da Alesp, consideramos que importunar as mulheres não é grave", diz a carta de Beatriz Bracher

Senhores deputados da ALESP, as mulheres não gostam de ser apalpadas por pessoas a quem elas não deram essa permissão.

Milhões de mulheres brasileiras são apalpadas e encoxadas diariamente no transporte público.

Se os senhores deputados da ALESP desconhecem essa humilhação cotidiana a que as mulheres brasileiras estão expostas, perguntem àquelas mulheres que os cercam — mãe, filha, mulher, irmã e amiga. Talvez elas nunca tenham andado de ônibus ou metrô em horário de pico, talvez, de fato, nunca tenham passado por essa situação quando jovens.

Se assim for e se os senhores tiverem interesse em saber o que se passa com as pessoas que os senhores representam, sugiro que perguntem a suas funcionárias, cozinheiras, arrumadeiras, lavadeiras, diaristas e às babás de seus filhos.

Algumas consideram essa ação como “coisa da vida”. E dizem, “se fui molestada? Não, quer dizer, só assim, eles se aproveitam e se esfregam na gente quando o ônibus está cheio. Homem é assim mesmo”.

Mas se insistimos um pouco, “e isso é ruim?”, a maior parte delas responderá, “é, é muito desagradável. Me sinto desrespeitada. Mas os homens são assim, fazer o quê?”.

Senhores deputados da ALESP, os senhores são assim?

Os senhores deputados da ALESP sabem perfeitamente que “os homens são assim” importunam as mulheres.

Os senhores deputados da ALESP acham que as mulheres que se ofendem por serem apalpadas devem relevar essa agressão, por que “os homens são assim”?

Os senhores deputados da ALESP consideram vingativa uma mulher que não desculpa um homem que a apalpa?

Os senhores deputados da ALESP consideram que uma mulher que diz que o homem que a molestou deve ser denunciado publicamente é uma mulher que faz tempestade num copo d’água, uma intolerante, pois, afinal, “os homens são assim”?

Os senhores deputados da ALESP pensam lá com os seus botões: “se tantas mulheres são encoxadas, por que essa daí tem que fazer esse escândalo? Por acaso ela se acha especial a ponto de não poder ser apalpada? Só uma mão boba em seu seio e já esse barulho todo! Afinal, ‘os homens são assim’”?

Pois se os senhores deputados da ALESP acreditam que os homens não precisam ser assim, mais ainda, que os homens não devem ser assim, está em suas mãos entregar essa mensagem clara a todos os brasileiros e brasileiras.

Os senhores têm uma oportunidade ímpar de dizer em alto e bom som: os deputados da ALESP não aceitam que homens apalpem e encoxem mulheres e apoiam todas as brasileiras que se manifestam contra essa humilhação.

Homens não são animais incapazes de controlar seus impulsos.

Homens não são animais incapazes de controlar seu desejo de poder e opressão.

Homens são seres humanos que precisam seguir regras de convivência social.

Os deputados da ALESP precisam dizer de forma inequívoca: homens não podem apalpar mulheres sem a sua permissão.

Suspender o deputado da ALESP Fernando Cury, que apalpou e encoxou a deputada Isa Penna no plenário à vista de todos, por apenas 119 dias é ser conivente com a importunação sexual. É uma atitude corporativa que procura defender não apenas os deputados da ALESP, mas os “homens brasileiros que são assim”.

Deputados da ALESP, os senhores tem uma oportunidade única nesse momento.

Cassar o deputado da ALESP, Fernando Cury, é uma mensagem clara e inequívoca às eleitoras paulistas: nós, deputados da ALESP, estamos do seu lado e contra os importunadores de mulheres.

Punir o deputado Fernando Cury com a suspensão de seu mandato por 119 dias é uma mensagem ainda mais clara: eleitoras paulistas, nós, deputados da ALESP, consideramos que importunar as mulheres não é grave.

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