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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Após caso da motociata de Bolsonaro, Marta Suplicy decide exonerar Soninha da Prefeitura de São Paulo

Ex-vereadora diz que foi vítima de fake news, e ex-senadora afirma que Soninha assinou documento sem ler

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Secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy decidiu exonerar Soninha Francine da chefia de gabinete da sua pasta. A saída deve ser oficializada no Diário Oficial desta quinta-feira (24).

O motivo foi a assinatura de despacho que autorizou a transferência de R$ 75,2 mil para a Secretaria de Esportes e Lazer instalar gradis para a realização da motociata de Jair Bolsonaro em 12 de junho.

Soninha diz ao Painel que a ex-senadora não entendeu, não quis entender ou não teve mais paciência para explicar para as pessoas o que de fato aconteceu. Ela afirma que a assinatura do despacho foi um ato formal, sem que ela tivesse qualquer função ativa na liberação dos recursos.

Marta afirma que a ex-vereadora admitiu ter assinado o documento sem ler e depois, à coluna Mônica Bergamo, envolveu-a em um relato que não correspondia à realidade.

A ex-vereadora Soninha Francine, que deixará a pasta de Marta Suplicy
A ex-vereadora Soninha Francine, que deixará a pasta de Marta Suplicy - Marcus Leoni-20.jan.2017/Folhapress

Segundo Soninha, o fato de ter assinado o despacho foi um ato exclusivamente burocrático derivado de mudanças na estrutura das secretarias. Como a pasta de Esportes e Lazer tinha direito aos recursos originalmente, não cabia a ela barrar a liberação.

"Não tinha nenhuma decisão ao meu alcance. Não tinha matéria para decidir. Naquela dotação orçamentária tem um recurso que não é nosso [de Relações Internacionais] para decidir como usar", afirma Soninha. "Nunca coube a mim o direito de me recusar a tomar uma providência meramente burocrática", completa.

"Dizer que no fundo eu dei dinheiro para o Bolsonaro fazer ato negacionista, para mim, é motivo de ação penal por difamação e calúnia. Me acusar de improbidade por nada. Além de me acusar de improbidade, me coloca em um perfil ideológico que é ofensivo para mim", diz Soninha, a respeito de críticas que recebeu.

"Expliquei isso seguidas vezes para a Marta, mas acho que em parte por falta de compreensão do registro institucional, burocrático, administrativo, ela não compreendeu que eu não decidi porcaria nenhuma. Na parte da política, ela também não entendeu que eu não estou defendendo o Bolsonaro", continuou. "Na leitura dela, se eu não queria apoiar o Bolsonaro, não poderia ter feito o que fiz."

Marta afirma que ligou para Soninha depois da repercussão do caso, e então a chefe de gabinete teria dito que havia assinado o despacho sem ler.

"Liguei e perguntei 'por que você assinou esse despacho?' e ela respondeu 'que despacho?'. 'O despacho dos gradis, Soninha, por que você foi assinar isso?'. Ela disse 'eu assinei sem ler, Marta'. Eu disse 'o quê? Como?' E ela falou 'estou em um lugar em que o sinal é ruim, é tudo muito burocrático, e eu assinei sem ler.' E aí eu disse 'Soninha, olha o que você assinou. Não podia de jeito nenhum. Era a forma de São Paulo se colocar em uma posição de que não vai assinar coisas que não são atos de Presidente da República, mas de campanha eleitoral'", relata Marta, que afirma que Soninha então colocou o cargo à disposição, mas ela decidiu pensar por mais dias.

Depois disso, em entrevista à coluna Monica Bergamo, Soninha disse que Marta gostaria de ter impedido o evento e até tentou ver se isso era possível.

A ex-senadora classifica a declaração como muito grave, já que o despacho foi assinado sem que ela soubesse. Ela afirma que o papel de Soninha, no caso, não era recusar a liberação de verbas, mas no mínimo informá-la do pedido.

Caso tivesse sido informada, Marta diz que provavelmente não permitiria que a transferência fosse feita, como "posicionamento político".

Soninha afirma ter sido vítima de fake news e compara ao episódio de sua demissão da TV Cultura em 2001, após ter dito em entrevista à revista Época que fumava maconha. "Só que ainda pior", avalia.

A ex-vereadora defende que, a despeito de não ter tido ingerência no processo, a medida foi correta também no mérito.

"A Prefeitura de São Paulo não tem o direito de negar providências à passagem de um chefe de estado pelo município", afirma.

"A nossa eleição para presidente foi marcada decisivamente por um atentado a um candidato. É um fato mensurável. O candidato tomou uma facada. É um dever institucional de um órgão público [oferecer segurança]. Se o Bolsonaro for ao Maranhão, a polícia estará mobilizada. Como o organizador do Acelera Para Cristo informou as autoridades que o presidente tinha sido convidado e aceitado, teve reunião do Exército, do Comando da Polícia Militar, do esquadrão antibombas", argumenta Soninha.

Marta diz que a chefe de gabinete não apresentou esse argumento nas conversas que tiveram, mas que diverge.

"Quem tomou o risco de fazer algo fora do correto foi o presidente. Não era uma visita presidencial. Inclusive, o pedido dizia que o 'presidente tem o desejo'. Era algo que dava para dizer que a prefeitura não iria gastar o dinheiro dos munícipes em algo que não era uma visita presidencial oficial", afirma a ex-prefeita de São Paulo, que elogia Soninha.

"Foi uma decisão dificílima, porque eu gosto dela, acho competente, é boa, trabalha muito. Não tenho o que reclamar dela como chefe de gabinete. Mas acho que o jeito depois que ela lidou com a história houve dois momentos: quando confessou que não tinha lido e depois quando me envolveu", diz.

"Não vou ficar com uma responsabilidade que não tive", conclui.

Com William Castanho

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