O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), diz ter sido pego de surpresa com a decisão do secretário de Cultura, Alê Youssef, de deixar o cargo.
Nunes afirma que aprova o trabalho que Youssef realizou à frente da pasta e que considera ter apoiado todas as suas ações como secretário.
O Painel mostrou nesta quarta (25) que Youssef resolveu sair da pasta sob o argumento de que tem incompatibilidades ideológicas com Nunes e vê dificuldades orçamentárias para a Cultura com o novo prefeito.
O secretário expôs esses argumentos em carta enviada a assessores e coordenadores ligados a ele.
Nunes afirma que tem um bom relacionamento com Youssef e sequer fez comentários sobre as ações que o secretário vinha desenvolvendo.
“Tudo que ele pediu e propôs eu apoiei”, afirma o prefeito. Nunes também diz não ver qualquer problema em relação ao orçamento da secretaria para 2022.
A coluna mostrou que Youssef vinha travando disputa na prefeitura a respeito do tema. O secretário queria que 2% do orçamento fosse destinado à Cultura e recebeu resposta de que ficaria em 1%, ainda abaixo dos 1,08% de 2021. O impasse foi a gota d’água na decisão para o pedido de demissão.
Nunes diz à coluna que o valor da Cultura para o ano que vem será maior que o de 2021, mas que as cifras exatas ainda não foram definidas.
Nota da Secretaria Especial de Comunicação da Prefeitura diz que a gestão municipal “reafirma o seu compromisso com a manutenção das políticas de fomento cultural da cidade.”
“Para garantir o prosseguimento de programas e projetos no próximo ano, o prefeito Ricardo Nunes sancionou, no último dia 10, a Lei nº 17.595, que estabelece as diretrizes para o Orçamento de 2022, cujo Artigo 21 determina que: ‘o valor orçado para a Secretaria Municipal de Cultura no Projeto de Lei Orçamentária para 2022 não será menor do que o valor orçado na Lei Orçamentária de 2021’.”
O artigo em questão trata de valores absolutos, ao passo que o debate entre o secretário e a administração municipal girou em torno do percentual do orçamento destinado à Cultura.
Youssef ficará no cargo até o fim de agosto para que Nunes escolha um novo secretário e combinou de participar da transição para seu substituto.
Ele foi uma escolha de Bruno Covas (PSDB) para a gestão municipal em 2019. Em seu projeto de tentar ser um radical de centro, equilibrando elementos do espectro político, como ele repetia, o tucano buscou no empresário e produtor cultural o componente mais à esquerda de sua administração.
Youssef fala na carta na dificuldade da atual gestão da Prefeitura de São Paulo de compreender o “caráter libertário, transformador e independente da cultura”.
Em janeiro de 2020, o secretário realizou o Verão Sem Censura, festival organizado para abrigar peças de teatro e outras manifestações culturais que haviam sofrido intervenções ou boicote pelo governo Bolsonaro. O evento, que foi um dos marcos de sua gestão, foi repetido em 2021 com o nome de São Paulo Sem Censura.
Youssef também foi um dos secretários que participaram da expansão do Carnaval de rua paulistano, que passou a acontecer em todas as subprefeituras da cidade e atingiu seus maiores números de público e de eventos.
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