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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Governo Doria pressionou e tive que sair da Prefeitura de SP por apoiar Leite, diz ex-secretário

Orlando Faria deixou Secretaria de Habitação horas depois de anunciar que apoiaria governador do RS

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Exonerado da Prefeitura de São Paulo pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) nesta segunda-feira (8), horas após anunciar apoio a Eduardo Leite nas prévias do PSDB, Orlando Faria diz que sua saída da Secretaria de Habitação foi resultado de forte pressão dos aliados de João Doria, que concorre com o governador do Rio Grande do Sul.

Faria afirma que, em conversa com a equipe de Nunes, ouviu que sua decisão havia caído como bomba na campanha de Doria e que havia "muita coisa envolvida" na Habitação entre estado e município.

Orlando Faria, ex-secretário municipal de Habitação de SP
Orlando Faria, ex-secretário municipal de Habitação de SP - Divulgação/PMSP

"O prefeito foi pressionado para demitir. Tenho certeza, não tenho dúvidas sobre isso", diz Faria ao Painel. Um dos aliados mais próximos de Bruno Covas, seu amigo desde a Juventude Tucana, Faria foi titular e adjunto de diferentes pastas na prefeitura desde o período em que Doria assumiu a prefeitura de SP, em 2017.

Em entrevista ao Painel, ele diz ter entendido em conversa com a equipe de Nunes que o município poderia ser retaliado caso ele permanecesse depois de declarar apoio a Leite. E por isso colocou o cargo à disposição, ainda que não quisesse deixar a prefeitura.

Como foi o dia de sua exoneração? Tomei um café da manhã com Eduardo Leite, bem cedo, e publicamos uma foto. Eu, o vereador Aurélio Nomura, que foi líder do Doria na Câmara em 2017. Foi uma manifestação de apoio, sem qualquer tipo de comentário ou ataque a qualquer um. Isso não foi bem recebido pelo Palácio, pelo governador Doria, que, até onde me consta, acabaram pressionando o prefeito Ricardo Nunes, pedindo minha exoneração.

Fui convidado para falar no gabinete do prefeito, conversar sobre o assunto. Falei com a equipe do prefeito, disseram que havia essa pressão, que não tinham recebido bem, estavam pressionando bastante, e então me pediram para falar com o prefeito. A gente sentou um tempo depois para discutir, porque minha intenção não era em momento algum prejudicar nem a cidade de SP nem o governo. Era só uma declaração de apoio nas prévias do PSDB.

Orlando Faria (esq.), Xexeu Tripoli, Eduardo Leite e Aurélio Nomura durante encontro nesta segunda-feira (8)
Orlando Faria (esq.), Xexeu Tripoli, Eduardo Leite e Aurélio Nomura durante encontro nesta segunda-feira (8) - Arquivo pessoal

Chegamos à conclusão ali de que, para que não houvesse problemas para a cidade, que era melhor eu pedir exoneração e assim foi feito.

Não era a minha intenção, sair da secretaria de Habitação. Estávamos criando novas soluções, políticas públicas novas, programa novo, chamado Pode Entrar, tinha conseguido 25 mil unidades habitacionais junto ao Ministério de Desenvolvimento Regional, publicamos dois chamamentos para programas de habitação social.

Era a missão que o prefeito Bruno Covas tinha me deixado. Acho uma pena um secretário que estava desenvolvendo políticas públicas ter que deixar o cargo por conta de uma escolha democrática.

Como foi essa conversa com a equipe do prefeito? Eles disseram que minha manifestação de apoio tinha caído como uma bomba lá dentro, no Palácio, e que mais de um interlocutor dizia que era um problema nas relações do estado com o município, que tinha muita coisa envolvida, investimentos no município, projetos na Câmara andando, era uma semana muito complicada por votações na Câmara e tinha criado instabilidade política muito grande.

E a conversa com o prefeito? Foi muito boa, minha relação com o prefeito é boa. Ele me deixou à vontade sobre o que fazer, se a gente poderia ter outra saída [que não a exoneração], uma licença. Mas eu achei melhor pedir a exoneração diante do excesso de pressão que o Palácio fez. Não acho justo que o prefeito e a cidade paguem pelo modus operandi da campanha do Doria.

Disseram que a cidade poderia ser retaliada caso o sr. continuasse? Não ouvi isso diretamente, não posso afirmar, mas me pareceu, na conversa com a equipe do prefeito, que o tempo todo esse era o teor da conversa.

O sr. acredita ter sido demitido por pressão do Palácio dos Bandeirantes? Tenho certeza. Não tenho dúvidas.O prefeito foi pressionado para demitir. O desfecho seria uma demissão de uma forma ou outra. Mas me coloquei à disposição antes que isso acontecesse para não prejudicar a cidade. Em comum acordo com o prefeito, fiz o pedido de exoneração.

Outros secretários tucanos da prefeitura apoiam Leite. Há pressão para que não falem publicamente? Acredito que sim [existe pressão para que não se manifestem a favor de Leite]. A gente conhece outros casos de simpatia e ajuda à campanha do Eduardo Leite dentro do secretariado partidário do PSDB. O que ficou claro para mim, nos últimos dias, é que houve um processo de tentativa de convencimento deles para que ninguém se manifestasse.

Havia mais secretários municipais prestes a anunciar apoio a Leite na segunda-feira e que recuaram na última hora? Sim. E recuaram depois, sim.

Eduardo Leite tem buscado apoio do grupo de aliados de Bruno Covas nas prévias. Há afinidade entre a visão de partido dele e do ex-prefeito? Qual é o motivo dessa incursão, na visão do sr.? Ideologicamente, com certeza. Politicamente, com certeza. O tamanho do grupo do Bruno no município e no estado é relevante. O grupo do Bruno deu sustentação o governador João Doria aqui na capital. O Bruno e o Geraldo [Alckmin] que deram vitória para o Doria em 2018, sustentaram internamente essa campanha. Sem demérito ao João, que trabalhou para isso.

É natural que o grupo do Eduardo Leite tenha essa leitura de que conquistar o grupo do Bruno seria estratégico para as prévias. Fizeram a incursão aqui em São Paulo, há algumas semanas estão falando comigo e com outros. Eu não falo pelo Bruno nem pelo grupo todo, é um grupo muito heterogêneo e espalhado por todo o estado.

O sr. fez parte da gestão Doria na Prefeitura de São Paulo, trabalhou pela eleição dele em 2018. Por que não apoiá-lo agora e optar por Eduardo Leite? Até ontem [segunda-feira] eu não tinha nada a criticar no governador Doria pessoalmente. Era uma posição técnica.

Primeiro, acho que a questão ideológica. O Eduardo tem muito mais aderência com a social-democracia, com o PSDB raiz. Em um discurso, em 2018, ele disse que não se filiou ao novo PSDB, mas ao velho. Na contramão disso, Doria disse em algum momento disse que o PSDB já não era mais social-democrata. Confesso que não entendi direito a interpretação dele.

Segundo, tem a questão estratégica. O Doria criou resistência, desgaste. Ele tem certa impopularidade no país, uma rejeição, que dificulta um pouco o seu crescimento em pesquisas. É notório. A viabilidade eleitoral do Eduardo é maior. Temos mais chances de vaga no Planalto com ele.

É uma análise técnica, de escolha, pensando em quem pode virar terceira via e assumir a disputa. Estou pensando no meu partido.

Por fim, uma terceira análise técnica é uma comparação das duas gestões. O Eduardo Leite, quando deixou a prefeitura de Pelotas, saiu com aprovação alta, inclusive elegeu sua sucessora com facilidade. Em 2018, concorrendo a governador, angariou 90% dos votos de Pelotas.

O governador João Doria saiu da prefeitura em março com a popularidade no pior momento na capital, em 18%. Na eleição seguinte, 2018, fez 42% na cidade em que foi prefeito. É o reconhecimento de como foi cada gestão.

Juntando todas as variáveis cheguei à conclusão de que a melhor opção para o partido e para o país seria o Eduardo Leite, sem qualquer problema se o Doria ganhar.

O sr. foi procurado por alguém do partido depois da exoneração? Sim, fui procurado por senadores, caciques, líderes regionais do país todo. Tem muita gente inconformada, falando em tomar providências, em abuso de poder. Quantos prefeitos e vereadores deixaram de manifestar apoio anteriormente por medo de perder verba de município, por medo de retaliação? Quantos presidentes de diretórios deixaram de manifestar apoio por medo de perder o posto?

E agora conseguiram derrubar um secretário da capital de São Paulo? Ninguém mais vai ter coragem de se posicionar. Agora a discussão é o quanto isso pode influenciar no resultado. Até onde isso tem efeito no resultado final, uma vez que as pessoas não podem mais se manifestar.

O sr. vai fazer parte da equipe de campanha de Leite nas prévias? Houve convite? Fui chamado, mas ainda não está certo. Estamos conversando. Pediram para que eu sentasse com eles para bater um papo. Acho que posso contribuir. Poucos participaram de todas as prévias do PSDB. Eu sou um deles.

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