A gestão João Doria (PSDB) retirou das suas estações de metrô totens que tratavam da importância da higienização do pênis para a saúde.
Chamada de "Lave o Dito Cujo", a campanha está sendo realizada pelo Instituto Lado a Lado por ocasião do Novembro Azul, mês mundial de combate ao câncer de próstata.
O Brasil é um dos países com maior incidência de câncer de pênis no mundo. A doença tem uma grande prevalência em populações desassistidas, muitas vezes associadas a baixo nível de escolaridade, serviços precários de saneamento básico e pouco acesso a sistema de saúde eficiente.
O material foi retirado horas depois do deputado Tenente Nascimento (PSL) apresentar moção de repúdio ao material na Assembleia Legislativa de São Paulo. Evangélico, ele fala em afronta à família cristã.
Em nota, o governo fala que a campanha não condiz com suas diretrizes e não atende ao objetivo do Novembro Azul.
O Instituto Lado a Lado afirma, em nota, que "lamenta que formuladores de políticas públicas entendam que falar de uma doença negligenciada, que leva a óbito e mutila milhares de homens no país seja 'uma afronta aos costumes da família brasileira'".
O parlamentar diz que fez contato com a Secretaria de Comunicação e com a presidência do Metrô na tarde desta quinta-feira (18) e que ambas se comprometeram a retirar o material, o que ocorreria horas depois.
Os totens, que estavam em 15 estações pela cidade, mostravam 366 ilustrações relacionadas ao pênis e continham a mensagem "a higienização correta pode salvar a sua vida".
Nascimento, que é evangélico, diz ao Painel que foi informado da campanha por um pastor que passou pela estação Vila Mariana do metrô.
"[A exposição do material na estação] é inadmissível sob a ótica cultural, educacional, social e religiosa, pois é uma afronta aos costumes e tradição da família brasileira", diz a moção do parlamentar.
"O cartaz é uma afronta. Os desenhos que lá estão são de baixo nível para estar em uma exposição pública. Nem em um museu você vai passar por isso. Passam crianças e todo mundo. Foi uma afronta à família cristã, ou melhor, ao povo. Não é uma questão de religião ou de ideologia", afirma Nascimento.
"Solicitei a retirada e fui prontamente atendido. E pedi também apuração dos responsáveis", completa.
A mortalidade por câncer de pênis no Brasil se manteve praticamente inalterada entre 2008 e 2018, segundo levantamento do hospital A.C.Camargo Câncer Center.
A média anual é de 400 óbitos. As biópsias utilizadas para o diagnóstico da doença, no entanto, diminuíram, dificultando o sucesso do tratamento.
O Instituto Lado a Lado afirma que lançou em janeiro de 2020 a campanha Lave o Dito Cujo com o proósito de estimular a prevenção ao câncer de pênis, do qual "pouco se fala no Brasil —rara em países desenvolvidos— [e que] ocorre, principalmente, por causa da má higiene íntima, pouca amplitude da vacina do HPV e falta de informação, incluindo suas causas e riscos do seu desenvolvimento."
Em sua nota, o instituto diz que foi informado que os paineis seriam retirados após "pedidos dos passageiros".
Em complementação ao seu posicionamento inicial, o governo de SP disse que retirou a peça porque "a peça, ao fazer relação ao Novembro Azul, pode dar uma falsa sensação de proteção à população, sendo estes exames as únicas formas de detecção precoce da doença."
"Lavar o pênis, apesar de ser uma importante medida para evitar uma série de doenças, não é uma das formas para prevenir esse tipo de câncer [de próstata], mas sim o exame de toque da próstata e o exame de sangue PSA", conclui.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.