O perito Ivo Peixinho, especialista em crimes cibernéticos e responsável por testes nas urnas eletrônicas, afirmou em depoimento à Polícia Federal que entre 2019 e 2020 o governo federal por meio da Agência Brasileira de Inteligência buscou informações sobre a segurança no sistema eleitoral brasileiro.
O depoimento de Peixinho foi o primeiro tomado pela delegada Denisse Ribeiro e guiou a apuração que resultou no relatório em que a PF afirma que Bolsonaro atuou diretamente para disseminar desinformação sobre as urnas.
Peixinho detalhou à PF o encontro com Jair Bolsonaro a pedido do ministro da Justiça, Anderson Torres. A reunião foi revelada pelo Painel e resultou na convocação do perito federal para prestar depoimento.
O perito conta que "em 2019 ou 2020" a Abin enviou um pedido de informações "sobre informações sobre ocorrências ou atividades envolvendo urnas eletrônicas nas eleições".
Segundo ele, nessa ocasião, ele produziu um informe com todas as atividades da PF sobre o tema e os relatórios de análise no código fonte das urnas e testes públicos do TSE.
Na live do dia 29 de julho, Torres utilizou alguns desses relatórios para corroborar a tese de Jair Bolsonaro sobre as fraudes no sistema.
Em seu depoimento, Peixinho afirma que "de forma alguma" os relatórios apontam para qualquer tipo de fraude e que no dia da reunião com Bolsonaro, questionado por Alexandre Ramagem, diretor da Abin, explicou que as falhas identificadas em testes nas urnas foram corrigidas pelo TSE.
No relatório encaminhado ao STF, a delegada Denisse Ribeiro afirma que a live presidencial foi um "evento previamente estruturado com o escopo de defender uma teoria conspiratória que os participantes já sabiam inconsistente".
Ramagem disse em depoimento que não sabe quem idealizou a live, mas confirmou ter participado da reunião com o perito no Palácio do Planalto dias antes da transmissão.
"Tal apresentação não durou mais do que cinco minutos. Que, aparentemente, o presidente estava ciente dessa reunião em que os peritos participariam juntamente com o ministro da Justiça", disse.
À PF, Anderson Torres disse que a decisão sobre o conteúdo utilizado na live foi do presidente.
Torres afirmou que logo que assumiu a pasta solicitou a todos órgãos vinculados ao ministério estudos relacionados ao tema eleição.
O ministro, porém, disse que não leu a íntegra dos relatórios e que somente analisou extratos que lhe foram enviados.
Embora tenha utilizado os documentos na live de Bolsonaro para corroborar a tese do presidente, Torres disse à PF que "não foi possível depreender do material que teve acesso a existência de fraude ou manipulação de voto".
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