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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Descrição de chapéu yanomami

Governador de RR diz que desnutrição não existe só no estado e defende que indígenas se aculturem

Antonio Denarium afirma que não é possível vincular garimpo a situação dos yanomamis

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São Paulo

Para o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), a crise que afeta os yanomamis não é exclusiva do estado, é restrita a alguns grupos e acontece há décadas da mesma forma.

O governo Lula (PT) declarou emergência em saúde pública no último dia 20, após o presidente receber imagens de indígenas com quadro de desnutrição grave. Ele fez uma visita a Roraima no dia seguinte, o que deu visibilidade à explosão de casos de desnutrição, doenças associadas à fome (como diarreia e infecções respiratórias) e malária no território yanomami.

Denarium afirma ao Painel que a responsabilidade por esse cenário não é do Governo de Roraima, mas de todos os últimos presidentes, não apenas de Jair Bolsonaro (PL), de quem é aliado. "Foi dada publicidade há um problema que é recorrente há 20 anos", avalia. "Estão criando um fato que não é de hoje".

Antonio Denarium (PP), governador de Roraima, durante evento em Brasília
Antonio Denarium (PP), governador de Roraima, durante evento em Brasília - Divulgação/@antoniodenarium no Twitter

Reportagens e levantamentos têm mostrado, no entanto, agravamento da situação durante a administração de Bolsonaro, que desde antes de se tornar presidente antagoniza com grupos indígenas e tem o apoio de garimpeiros. O garimpo na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, levou ao desmatamento de 232 hectares de floresta amazônica só em 2022, apontam dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O número representa um aumento de 24,7% em relação ao índice registrado no ano anterior (186 hectares). Em 2021, o garimpo registrou a maior expansão em 36 anos, mostrou o Observatório da Mineração.

Segundo a atual ministra da Saúde, Nísia Trindade, o garimpo é a principal causa da crise sanitária dos indígenas de Roraima.

Denarium defende que os indígenas devem se articular para começar a explorar suas áreas, férteis em minérios, e cita o exemplo dos cassinos instalados em reservas indígenas nos EUA.

"Imagine você desempregado, pobre, passando fome, doente. Dentro da sua casa tem um quadro do Picasso que vale US$ 1 bilhão. O que você faria? Venderia. Aí pega o dinheiro e melhora sua qualidade de vida. Igual aos indígenas americanos", diz ele, que conta ter visitado locais do tipo em Nova York.

"Os cassinos nos EUA ficam todos dentro de área indígena. Os hotéis de luxo próximos a Nova York ficam todos dentro de área indígena. Os indígenas ganham royalties", completa.

Denarium (que se chama Antonio Oliverio Garcia de Almeida e optou por agregar politicamente a alcunha que remete a dinheiro) diz que o pedaço de terra de Roraima é o mais rico do mundo —"tem a tabela periódica inteira"— e destaca um projeto de lei que tramita no Congresso que libera a exploração agropecuária, mineral e hidrelétrica em área indígena, desde que com a concordância das comunidades.

Apontado como aliado do garimpo, Denarium afirma que há 50 mil famílias que dependem dele em Roraima e que não podem ficar desempregadas. Ele contesta que a atividade esteja prejudicando a saúde dos yanomamis com o argumento de que há desnutrição indígena em locais sem garimpo.

A respeito de projeto de lei que sancionou para proibir a destruição de equipamentos apreendidos do garimpo ilegal, ele diz que a ideia não era favorecê-los, mas repassar as máquinas para agricultura familiar, possivelmente aos próprios indígenas, ainda que isso não constasse no texto.

"Quando fala de desnutrição, tem no Brasil inteiro. Se for em São Paulo, tem crianças com desnutrição. E estou falando da população normal, não-indígena. Se for na Bahia, que tem estrada e tudo, eles moram praticamente dentro da cidade. Eu estava vendo reportagem sobre índios Pataxó com desnutrição. Aqui em Roraima, 80% dos indígenas já são aculturados, ou seja, tem um bom convívio e relacionamento com os brancos", afirma.

"A Cufa [Central Única das Favelas] está entregando cestas de alimentos aqui. Você vê nas filas, nos vídeos que eles publicam, não tem nenhum desnutrido. Todo mundo bem arrumadinho, tudo certinho. O problema é localizado, não é generalizado", completa.

Denarium diz que a responsabilidade de saúde das comunidades indígenas, especialmente isoladas, é do governo federal. "Tenho 260 escolas em comunidades indígenas. Eles querem ser advogados, professores, médicos. Eu acho correto. Eles [indígenas] têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho. Eles têm que estar lá com condição, com estrada, escola, posto de saúde, fazendo agricultura deles, produzindo macaxeira, farinha", defende.

O governador de Roraima lista o que considera seus principais feitos para os indígenas: um programa de compra de produtos da agricultura familiar cultivados pelos indígenas que destina os alimentos para eles mesmos, abriu concursos para professores indígenas, mandou reformar mais de 80 pontes e recuperou milhares de quilômetros de estradas em áreas indígenas. Por isso, diz, venceu as eleições em 2022 em todos os municípios com comunidades indígenas.

Denarium diz que não é radical e que, por exemplo, condena as invasões de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes, em Brasília. Se fosse radical, pondera, não teria participado dos encontros com Lula e com seus ministros nas últimas semanas. Segundo ele, a ideologia política, direita ou esquerda, não importa, o crucial é que a política "funcione para o povo".

Ele afirma ter conversado com Lula por 20 minutos durante a passagem do presidente pelo estado na semana retrasada, e que utilizou esse tempo para dar um mapa dos problemas do estado para o petista: saúde indígena, garimpo e os cerca de 300 venezuelanos que entram em Roraima por dia, em média. Os três grupos somam 40% da população local, calcula Denarium.

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