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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Após deixar prisão, Marcelo Odebrecht dá palestra em sigilo na FGV

Segundo professora, apresentação foi disputada entre estudantes e teve celulares retidos

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São Paulo

​Um mês após sair da prisão que cumpriu por envolvimento no maior escândalo de corrupção do país, Marcelo Odebrecht foi à Fundação Getulio Vargas, nesta terça-feira (15), para dar uma palestra aos alunos sobre compliance, palavra que a Lava Jato tornou conhecida e indica boas práticas corporativas para cumprimento das leis. 

A apresentação, realizada no prédio da FGV, em São Paulo, começou às 11h e deveria durar o tempo normal de uma aula —pouco mais de uma hora e meia—, mas excedeu o limite e teve de ser interrompida às 13h05, tamanho foi o interesse dos alunos de graduação da tradicional escola de negócios pela história de Marcelo Odebrecht. 

Houve disputa entre os jovens estudantes de administração pública e privada para conseguir uma vaga na palestra do empresário que comandou a maior empreiteira do país, foi preso e viu o conglomerado da família entrar em uma recuperação judicial com dívidas de R$ 98,5 bilhões. 

 
Marcelo Odebrecht - AFP

A professora Ligia Maura Costa diz ter procurado Marcelo por meio de uma carta, quando ainda estava preso, pedindo que ele contasse sua experiência aos alunos. Ele aceitou com algumas condições. Falaria para poucas pessoas. Dos cerca de 90 alunos da disciplina, cerca de 35 seriam escolhidos. 

Os interessados fizeram suas candidaturas à professora, que diz tê-los selecionado com base em duas justificativas: por que eles queriam escutar Marcelo Odebrecht e quais perguntas fariam ao visitante? 

Segundo ela, a outra condição para que a palestra acontecesse era o sigilo. Antes da apresentação, os alunos deixaram seus celulares em uma "caixa do desapego", relata Maura Costa, que afirma ter assinado com os estudantes um contrato de confidencialidade. 

"Ele disse que não gostaria de falar com muita gente, que era a primeira vez que iria estar aberto e que responderia o que os alunos quisessem perguntar", ela afirma. 

Nada do que Marcelo disse foi reproduzido. Nem mesmo o jornal interno da FGV noticiou o fato, segundo a professora. Os alunos não o questionaram sobre tornozeleira eletrônica ou aspectos íntimos da prisão. 

O contexto era um curso de compliance que se inspirou no livro "Why They Do It: Inside the Mind of the White-Collar Criminal", do professor da Harvard Business School Eugene Soltes, que explora os motivos pelos quais os criminosos de colarinho branco agem, abordando casos emblemáticos como o do financista Bernie Madoff. 

"Nós levamos muitos empresários de sucesso na GV. Temos que levar um empresário que errou e vai lá contar aos alunos que, se tivesse que fazer de novo, não faria novamente", diz Maura Costa. 

A palestra de Marcelo é a segunda etapa de um programa de imersão, que teve no início do mês uma visita dos alunos à sede da Odebrecht. A aula prática aconteceu em uma semana agitada, enquanto a Caixa Econômica Federal pedia à Justiça decretação de falência do conglomerado e outros credores contestavam o plano de recuperação judicial.

Edições anteriores do mesmo curso de imersão foram realizadas em outras empresas que se envolveram em casos de corrupção, mas a versão deste semestre foi a que teve o melhor retorno por parte dos alunos.   

A Odebrecht é considerada um case de compliance porque passou por transformações ao longo dos últimos anos após o escândalo da Lava Jato. Fez treinamentos com funcionários sobre temas como conformidade e conflitos de interesse, criou políticas, implantou sistemas de prevenção, detecção e punição de riscos de corrupção, além de celebrar acordos com Ministério Público, Departamento de Justiça dos EUA, entre outros esforços.

 Depois da aula, Marcelo foi almoçar no restaurante dos professores localizado no prédio da escola, como costumam fazer os executivos que visitam a faculdade.  

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