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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Coronavírus

Dono do Madero defende destinar leito de hospital privado para o SUS no coronavírus

No início da pandemia, Junior Dursky disse que as consequências econômicas seriam maiores do que as mortes pela Covid-19

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São Paulo

Pouco mais de um mês após falar que as consequências econômicas da pandemia seriam maiores do que as mortes pela Covid-19, o empresário paranaense Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero, se posiciona a favor de liberar leitos de hospitais privados para atender o SUS.

"Todo mundo tem de se ajudar. Todo mundo tem de fazer o esforço e participar. Isso é humanitário. Não pode deixar alguém morrer porque não tem dinheiro para pagar em uma pandemia. Não estou dizendo para virar socialista no resto da vida", afirmou o empresário à coluna Painel S.A..

Presidente fundador da rede de hamburguerias Madero, Junior Durski - Danilo Verpa/Folhapress

No fim de março, quando levantou a polêmica nas redes sociais, Durski dizia que o país não poderia parar por causa de 5.000 a 7.000 mortes, estimativa que se tornou realidade nos últimos dias. O empresário ainda defende sua preocupação com o rumo da economia e diz que tem dificuldade em se expressar.

"Eu não sei colocar ponto nem vírgula nas frases, eu tenho dificuldade em que as pessoas me entendam. Não é fácil quando eu falo. Minha esposa deveria traduzir para as pessoas. Aí não teria um entendimento errado", afirma.

Durski diz que foi questionado por um amigo recentemente se ele mudaria de posição caso uma de suas filhas morresse com a doença. A resposta foi que ele confia em Deus e nas estatísticas.

O empresário diz que as vendas nos restaurantes estão em 15% a 20% do que era antes da pandemia e que o delivery tem ajudado a segurar o caixa, sem ter de recorrer aos bancos ainda.

No plano político, nos últimos dias, ele avaliou o "e daí" de Bolsonaro sobre as vítimas brasileiras do coronavírus como um reflexo da dificuldade do presidente em ser expressar, assim como ele. A saída de Sergio Moro do governo foi triste na opinião do empresário, mas o ministro "se queimou" ao sair falando mal do emprego, diz ele. Se trabalhasse na iniciativa privada, Moro perderia oportunidades de se empregar no futuro, afirma Durski.

O seu nome ficou em evidência no começo da pandemia. Como está o cenário hoje? Tudo bem, dentro do ruim, do possível. Estamos tocando, fazendo delivery, trabalhando com os restaurantes onde é permitido abrir. Aqui no Sul estão todos abertos, em Curitiba, Florianópolis, Balneário Camboriú, Porto Alegre.

Como está o movimento onde voltou? Muito baixo. Estamos aí com 40%, sendo que 25% está no delivery. Na mesa, estamos mais ou menos entre 15% e 20% do que era.

E ainda assim vale a pena abrir? Há quem diga que é melhor manter fechado? Aí é questão de cada um. Hoje, nos 200 restaurantes, estamos fechando o mês de abril com 29,5% do que deveria ser feito na nossa projeção original, que era R$ 120 milhões. Vamos fazer R$ 35 milhões. É lógico que ajuda porque já tem os empregados, a metade do aluguel que você tem que pagar aberto ou fechado. Enfim, você se defende de alguma maneira. Eu não acho que zero é melhor do que 30%. E tudo o que for feito agora vai ficar para depois. Vamos ampliando o delivery que não tínhamos. E hoje, 25% do nosso faturamento que deveria ser o original, já temos no delivery. Com isso, foi mais ou menos como se tivéssemos parado todos os restaurantes para nos dedicarmos ao delivery exclusivamente. E isso vai ficar após a pandemia. Pode não ficar nos 25% porque as pessoas vão sair de casa, mas vai ficar em 15% ou 10%. E vai ser sensacional no futuro, um ganho muito grande. Vale a pena sim. As marcas precisam ser lembradas. Se o restaurante ficar fechado muito tempo, pode ser esquecido.

O Madero tem falado com bancos, precisado de empréstimo na pandemia? Nós temos um caixa bom, razoável, temos administrado bem. E temos conversado com bancos para o caso de precisarmos. Ninguém sabe quando vai voltar, quando vai acabar. Para os próximos meses temos caixa para aguentar.

Aqui em São Paulo já falam novamente que não vai dar para relaxar a quarentena a partir do dia 10 de maio porque as condições externas não são favoráveis. Na sua opinião, o ideal é abrir? Não. Eu não acho que seja realmente abrir. Eu acho que o Brasil é um país continental. Aqui no Sul já está aberto. Se tiver que ter um pico, que seja logo, porque nós vamos entrar no inverno. Eu não sou cientista, não sou médico, mas moro aqui há 57 anos. Hoje eu fui no médico e ele me disse que em julho, no hospital dele, costuma aumentar 30% a demanda. Aqui em Curitiba, por exemplo, não se está usando 10% da capacidade da rede particular.

O que acha da ideia de transferir leitos privados ao SUS para atender doentes do coronavírus? Acho ótimo. Todo mundo tem de se ajudar. Todo mundo tem de fazer o esforço e participar. Isso é humanitário. Não pode deixar alguém morrer porque não tem dinheiro para pagar em uma pandemia. Não estou dizendo para virar socialista no resto da vida. Nosso regime não é esse, mas tem lugares em que é difícil. Eu conheço muito bem Manaus, Belém. Morei no Norte 15 anos. O saneamento lá é muito difícil, tem esgoto a céu aberto. Pega Fortaleza. Lá teve Carnaval, tem um monte de voos para a Itália. Lá tinha um fluxo diferente. Cada região precisa ser tratada de acordo com a sua capacidade de hospitais.

Aquela sua declaração do mês passado, que levantou polêmica, falava que o país não poderia parar por 5.000 a 7.000 mortes. Chegamos a esse patamar. Acha que chegamos rápido? Não acreditava naquele momento que alcançaríamos esse número? O que vê agora comparando os cenários? O que eu quis dizer, olhando o que estava acontecendo na Itália, na China, na França, é que inevitavelmente morreriam pessoas de coronavírus em todo o mundo. No Brasil se falava, e eu não estimo nada, que deveriam morrer de 5.000 a 7.000 pessoas. Foi o que eu falei. Mas como eu não sei colocar ponto nem vírgula nas frases, eu tenho dificuldade em que as pessoas me entendam. Não é fácil quando eu falo. Minha esposa deveria traduzir para as pessoas. Aí não teria um entendimento errado. Mas inevitavelmente morreriam pessoas. O que eu quis dizer é que tem que cuidar para que não morram muito mais pessoas depois de fome, desemprego, violência, falta de segurança, acidente de trânsito, porque as pessoas não vão ter dinheiro para trocar pneu. Teria que dosar o remédio com o efeito. O que tem de dosar é isso.

Passamos das 5.000 mortes, a parte de baixo da sua expectativa. O que diz? Infelizmente. Eu estava falando com um amigo meu, inteligente, e ele defende que tem de fechar tudo, fazer lockdown total. E eu defendo abrir dentro do possível, com isolamento para quem é do grupo de risco. Ok. Ele me falou: "Junior, você tem quatro filhas. Não vai acontecer, mas e se morresse uma filha sua com coronavírus? Você ia mudar de posição?" Eu falei: "Olha, eu não iria de jeito nenhum mudar porque eu acredito em estatística e em Deus. Eu tenho quatro filhas, a mais velha tem 30 anos. A probabilidade de ela morrer de coronavírus, levando em conta os números, é 500 vezes menor do que morrerem de acidente de trânsito ou morte violenta, assalto no sinaleiro". Se eu não levasse em conta a probabilidade, eu poderia estar preocupado. Mas eu levo. Tudo é matemático para mim. E eu acredito em Deus, e muito.

O que tem achado da situação política do país desde a semana passada com a saída de Sergio Moro do governo? Fiquei muito triste no primeiro momento, muito triste. Sempre admirei muito o Sergio Moro. Sempre achei o cara mais corajoso e que contribuiu demais para o Brasil. Por outro lado, eu nunca vi um executivo sair falando mal da empresa e se dar bem na vida. Ele tinha a oportunidade de sair com um currículo maravilhoso, e o patrão dele continuar indicando ele para o resto da vida. Se o cara sai da empresa xingando, falando mal e colocando a culpa da demissão no patrão, esse executivo se queima e ninguém quer pegar mais esse cara para trabalhar.

Sergio Moro recebeu convites depois. A analogia com a política é complicada? Eu sei que é complicada porque em política não é uma análise fria. O outro governador quer para poder prejudicar ou confrontar o presidente. Mas de qualquer maneira, que tivesse saído com um: "muito obrigado, eu cumpri o meu papel, tchau".

O que achou da fala "E daí?", de Bolsonaro sobre as mortes da pandemia? Eu, particularmente, vou falar por mim, tenho muita dificuldade em me expressar e que as pessoas me entendam. Eu não uso s, não sei ponto nem vírgula. Vou falando na emoção porque eu sou muito emocionado. Não é fácil se a pessoa não me conhece. Ela me interpreta completamente diferente. Eu acho que no caso do Bolsonaro é mais ou menos igual. Ele vai na emoção e fala errado como eu. Se eu analisar por mim, eu acho que ele tem dificuldade de falar bonito, de falar fácil. Continuo achando que a imprensa não dá moleza para o cara, e nem ele para a imprensa. É um relacionamento que não é fácil. Imagino que os dois lados tenham dificuldade em se entender.

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