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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Não vou colocar a escola em dificuldade para financiar quem tem patrimônio, diz diretor do Bandeirantes

Quarentena provocou embate entre escola e pais de alunos sobre alívio na mensalidade

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São Paulo

A quarentena provocou um embate entre alguns pais de alunos do Bandeirantes, um dos colégios mais tradicionais de São Paulo, e a direção da escola.

Depois que a escola mandou um comunicado, nesta semana, dizendo que não vai poder alterar condições de pagamento ou conceder descontos, um grupo de pais fez um abaixo-assinado pedindo alívio na mensalidade, que gira em torno de R$ 4.000.

Mauro Aguiar, diretor do Bandeirantes, afirma que sua prioridade é preservar a instituição e que não vai fazer nenhum tipo de negociação coletiva para reduzir a mensalidade dos alunos em geral. Ele diz que só vai discutir a chance de adiamento com pais que estejam mais necessitados.

"Tem gente trilhardária no Bandeirantes e tem gente em muita dificuldade. Eu não vou colocar a escola em dificuldade para financiar uma pessoa que tem suas reservas, que está cheia de patrimônio", afirma Aguiar.

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Mauro de Salles Aguiar, diretor do Bandeirantes - Greg Salibian/Folhapress

Alguns pais de alunos estão reagindo ao comunicado que receberam do colégio dizendo que não vai ter redução de mensalidade. Como estão tratando isso? Temos um princípio de educação no Bandeirantes. Acreditamos que Justiça não é igualdade, e sim equidade. A igualdade é um princípio de baixo desenvolvimento moral. As crianças querem sempre igualdade. Se você dá um presente para um, tem que dar igual para o outro. No desenvolvimento moral, você passa para a equidade. Não fazemos e não vamos fazer, em nenhuma hipótese, nenhuma negociação coletiva. Simplesmente porque isso inviabiliza a escola.

Por quê? Uma escola como o Bandeirantes tem 65% da receita líquida, que é a receita bruta do que se recebe no boleto já descontando todos os impostos, como ISS e Cofins, para trabalhar os recursos humanos próprios. E depois tem os recursos humanos terceirizados, como as equipes de limpeza em diferentes turnos.

Os terceirizados vão continuar sendo pagos? Todos os contratos com terceirizados são mantidos. Envolve limpeza segurança, empresa que dá apoio tecnológico, jovens que conhecem computação para ajudar alunos e professores. São vulneráveis. Então é muito curioso que uma minoria queira resolver os seus problemas. É curioso porque é muito brasileiro isso. É você querer resolver os seus problemas sem focar nos vulneráveis. Daqui a alguns meses vamos estar voltando ao normal e vai estar preservada esta instituição. Então qual é a nossa prioridade? Mantivemos todos os contratos para os que estão mais vulneráveis. É uma contribuição para a sociedade porque senão teria desemprego em massa.

O colégio pediu que as empresas terceirizadas mantenham o pagamento? Exatamente. Até porque, imagine que daqui a três meses, quando voltarmos, você acha que demite e depois contrata? Vamos colocar quem dentro da escola? É preciso lembrar que nós temos responsabilidade sobre 2.653 alunos. Eu vou colocar gente estranha dentro da escola? Uma das exigências que nós temos com os terceirizados é estabilidade. Nós não queremos mudanças e controlamos muito. Sabemos quem são as pessoas, conhecemos pelo nome. Não queremos saber de variação de pessoas, pagamos até mais caro para essas empresas porque queremos estabilidade de pessoal.

Então vem aquela história, rede de WhatsApp, começa a dizer "estou fazendo economia aqui ou ali", e esquecem que do esforço para você transferir um ensino presencial para o ensino a distância. São coisas completamente diferentes.

Por quê? O Bandeirantes é muito desenvolvido em tecnologia de apoio ao presencial. Por determinações legais, não tivemos escolha, nós fomos empurrados obrigatoriamente para o ensino a distância, que é outra coisa. Então para começo de conversa, tem problema de nuvem, de armazenamento e processamento dessa comunicação, que teve de ser muito ampliado. Você chega a ter permanentemente uma média de mais de mil alunos conectados simultaneamente, fora professores, funcionários. Foi preciso abrir canais de processamento muito maiores e obviamente com maior custo. Nós somos uma escola de ensino presencial. Quando transfere para distância é completamente diferente. Para minimizar os danos no processo de aprendizagem, ensino, rotinas escolares, avaliação, nós tivemos que contratar consultorias para nos apoiar. Estamos trocando pneu com carro andando.

Fica esse zum zum zum. A gente recebe emails de pessoas que realmente estão com enormes dificuldades. Vou dar um exemplo: a pessoa tem um comércio de rua próspero, tanto que paga o Bandeirantes, uma das escolas mais caras de São Paulo, mas, de repente, o faturamento foi a zero. Ou o dentista, que, além de cortar as receita, tem um perigo porque ele trabalha o tempo todo com fluidos onde tem o vírus. Existem certas situações que são a diferença entre igualdade e equidade. Sem prejudicar o princípio fundamental, que é a preservação da instituição, estamos analisando o que fazer com casos específicos dentro das nossas possibilidades.

Como fica o programa de bolsas do Bandeirantes? O colégio, apesar de ser uma empresa, pagar todos os impostos, tem as bolsas. Isso faz muita diferença. Vou dar um exemplo: tem pais falando que o St. Paul's deu 30% de desconto. Então vamos discutir o St. Pauls. Primeiro, é uma instituição sem fins lucrativos, tem uma série de vantagens nisso. Segundo, se você quiser matricular seu filho no St.Paul's, tem que pagar para entrar, como se fosse um clube, R$ 37 ou R$ 39 mil, não me lembro bem, não reembolsável. Depois é mais de R$ 9.000 por mês.

Então eles mandaram um comunicado para esses pais: quem tiver dificuldade durante dois, três meses, tem 30% de desconto. É um ambiente social de classe AAA. Quem consegue pagar R$ 37 mil na entrada? E todo ano tem alunos entrando e pagando. Isso cria um colchão enorme. É uma situação completamente diferente. Nesse grupo tem até uma pressão social para pagar. Tem questão de status. É uma realidade completamente diferente das escolas normais. Não tem nenhuma comparação. Eles não estariam fazendo isso se não tivessem um colchão de segurança.

Como é no Bandeirantes? Se eu tiver uma certa quebra de receita até um certo nível eu posso ir me segurando para pagar depois. E esses pais vão ter que pagar também. Senão, eu tenho um problema grave. E mesmo assim, diante do custo do colégio, a receita operacional líquida do Bandeirantes é R$ 2,7 milhões por mês. Qualquer quebra de receita, você não só entra em prejuízo como entra em débito de taxa. E quem vai pagar isso? A diretoria do colégio vai colocar dinheiro? Os próprios acionistas da empresa não têm recursos para cobrir isso. [Pais de alunos] começam a dizer que "não estão convencidos de que não é possível reduzir custos no período do afastamento".

Então o Bandeirantes não vai fazer nenhum tipo de negociação coletiva mas vai ter um tratamento caso a caso? Nós conhecemos os alunos. Tem um histórico. É caso a caso e sempre no limite da preservação da instituição. Tem alguns casos que são dramáticos. Estamos tentando tranquilizar e ver o que podemos fazer dentro destes limites. Em alguns casos, que tem verdadeiro desespero, que você sabe que a pessoa é séria, sempre pagou, aí a gente pode adiar.

A prioridade é a preservação da instituição, até porque daqui a três meses, vai ter que estar funcionando. Não adianta destruir a instituição.

Eu entendo que a família queira ficar no Bandeirantes, que escolheu o colégio porque ele é, modéstia a parte, excelente. Se é para destruir, então não faz diferença estar aqui ou lá. Vamos tentar ajudar as pessoas seguindo critérios, que estão sendo estabelecidos, dos mais necessitados sempre. Tem gente trilhardária no Bandeirantes e tem gente em muita dificuldade. Eu não vou colocar a escola em dificuldade para financiar uma pessoa que tem suas reservas, que está cheia de patrimônio.

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