Novo normal As convenções partidárias começam nesta segunda (31), mas diferentemente de 2018, a eleição deste ano não traz a forte onda de interesse dos empresários na política. Além da menor atração que o nível municipal gera no setor privado, os grandes expoentes desse movimento vão na contramão: Salim Mattar saiu da secretaria de privatização reclamando do establishment, Carlos Wizard durou pouco no Ministério da Saúde e João Amoêdo deixou a presidência do Novo.
Tempo Quando Roberto Setubal disse em evento do Itaú em 2017 que "política é para políticos", seu ceticismo tirou risos da plateia naquele momento de engajamento político. Hoje, há mais cautela. Flavio Rocha (Riachuelo), que foi pré-candidato em 2018 e defendia que o empresário "saísse da moita" politicamente, disse ao Painel S.A. na semana passada que "ficou perigoso" se expressar.
Urna O professor de estratégia empresarial Rodrigo Bandeira de Mello (Girard School of Business, Merrimack College, EUA) diz que essa tendência é antiga no mundo todo, mas vem se modificando com o avanço da polarização e das redes sociais. Tem até um nome em inglês, "personal service", mas além de servir o país, o empresário que entra na política também extrai benefícios.
Bastidor A participação política dá ao empresariado acesso a informação e aos tomadores de decisão do governo, além de prestígio, legitimidade, oportunidade de ter voz e influência na política pública, segundo Bandeira de Mello.
Estratégia O mercado de capitais também reconhece vantagem na iniciativa. Segundo o professor, estudo da década passada aponta aumento no valor de Bolsa das ações das companhias quando anunciam a chegada de um de seus dirigentes a algum nível de governo.
Tela "Esses estudos foram feitos sem considerar a polarização atual, nos EUA ou no Brasil. Discursos agressivos de ambos os lados ampliam seus efeitos nas redes sociais. Os investidores valorizavam a estratégia política da empresa, que visa de alguma forma influenciar o cenário. No novo contexto, outros participantes passam a ser mais valorizados, porque pode ter reação negativa de consumidores, público em geral, fornecedores, influenciadores", diz o professor.
Lente O que se entendia como risco político para as empresas mudou, segundo Bandeira de Mello. "Antes risco era se a empresa vai ser expropriada na Venezuela, por exemplo. Hoje, pode acontecer por grupos ou até uma pessoa com celular na mão, que filma alguém sendo expulso do avião", diz.
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